De Shakespeare a Alien ou O Senhor dos Anéis, Ian Holm era um actor versátil no drama e na comédia

O actor britânico, com mais de seis décadas de carreira no cinema, teatro e televisão, tinha 88 anos e sofria de uma doença relacionada com Parkinson. Estava internado num hospital londrino.

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Holm enquanto Bilbo Baggins em "O Senhor dos Anéis" DR

Ian Holm, que fez, desde o final dos anos 1950, uma longa carreira no cinema, na televisão e no teatro, morreu na manhã desta sexta-feira, num hospital de Londres onde estava internado. O actor britânico de 88 anos, confirmou o seu agente ao jornal britânico The Guardian, morreu de uma doença relacionada com Parkinson.

Nascido em Essex, em 1931, Holm fez parte dos primórdios da Royal Shakespeare Company, no início dos anos 1960, ganhando vários prémios e sendo aclamado nos palcos de Londres. Só que, apesar do sucesso e da aclamação, Holm afastou-se do teatro em 1976, quando começou a ser assolado por um enorme medo dos palcos — medo que viria a superar no início dos anos 1990 —, e passou a dedicar-se com mais afinco à carreira no meio audiovisual.

Foi no cinema que se deram três dos seus papéis mais icónicos. O primeiro foi o de Ash em Alien - O 8.º Passageiro​​, de Ridley Scott, de 1979, o tomo inaugural da saga Alien. Seguiu-se, dois anos depois, o de Sam Mussabini, o treinador do corredor Harold Abrahams em Momentos de Glória, de Hugh Hudson, que lhe valeu um BAFTA e uma nomeação para o Óscar de Melhor Actor Secundário. Já em 2001, iniciou uma colaboração com Peter Jackson na adaptação da obra de J.R.R. Tolkien, fazendo de Bilbo Baggins na trilogia O Senhor dos Anéis, e, posteriormente, em O Hobbit.

A ligação a Shakespeare foi uma constante ao longo das décadas de carreira, não só nos palcos como também na televisão e no cinema. Ainda no teatro, teve uma importante ligação ao dramaturgo Harold Pinter, em peças como O Regresso, de 1964, primeiro em Londres, depois na Broadway, o que lhe valeu um prémio Tony, e por fim no filme de Peter Hall. 

Teve o primeiro crédito em cinema em 1968, com The Bofors Gun, de Jack Gold, que lhe valeu um BAFTA de Melhor Actor Secundário, e prosseguiu com filmes como O Homem de Kiev, de John Frankenheimer, nesse mesmo ano, e Viva a Guerra!, de Richard Attenborough, do ano seguinte. Na década de 1970, fez filmes como Duas Rainhas, de Charles Jarrott, Ligações Cruzadas, de Dick Clement, ou Nicolau e Alexandra, de Franklin J. Schaffner, todos de 1971, A Flecha e a Rosa, de Richard Lester, com Sean Connery e Audrey Hepburn.

Actor de formação clássica e altamente versátil, exercitava tanto o drama quanto a comédia. Nos anos 1980, por exemplo, numa toada marcadamente cómica, fez parte da máquina burocrática e autoritária do distópico Brazil (1985), de Terry Gilliam, para quem já tinha feito de Napoleão em Os Ladrões do Tempo, de 1981. Pouco mais de 20 anos depois, apareceu na adaptação cinematográfica da absurda série de comédia de culto Strangers with Candyco-criada por Stephen Colbert, um filme realizado por Paul Dinello. Pelo meio, fez de Lewis Carroll em Sonhos de Criança, de Gavin Millar, escrito por Dennis Potter, e trabalhou com realizadores como David Cronenberg (em O Festim Nu e eXistenZ), Martin Scorsese (O Aviador) ou Sidney Lumet (O Lado Obscuro da Lei).

Mais de 60 anos de carreira

Um requisitado actor e colorido actor secundário por excelência, apareceu, nos anos 1990, em filmes como Vidas Diferentes, de Danny Boyle, O Quinto Elemento, de Luc Besson, A Loucura do Rei George, de Nicholas Hytner, ou o delicioso A Grande Inauguração, de Stanley Tucci e Campbell Scott. Num raro papel principal, foi o protagonista de O Futuro Radioso, de Atom Egoyan, em 1997. Já nos anos 2000, fez Garden State, o filme de estreia de Zach Braff, ou A Verdadeira História de Jack, o Estripador, adaptação de Alan Moore pelos irmãos Albert e Allen Hughes.

Apesar dos mais de 60 anos de carreira em vários meios, um dos seus papéis mais reconhecidos, é provavelmente o já mencionado Bilbo Baggins, o tio de Frodo, na trilogia d’O Senhor dos Anéis, assinada pelo realizador Peter Jackson. Holm já tinha feito de Frodo numa adaptação radiofónica da obra de J.R.R. Tolkien no início dos anos 1980, mas o papel do Hobbit mais novo nesta saga foi para Elijah Wood. Continuou a ser Bilbo nos filmes d’O Hobbit, protagonizados por Martin Freeman. Foi, aliás, o derradeiro filme dessa saga, O Hobbit: A Batalha dos Cinco Exércitos, de 2014, o último trabalho do actor. Tal como tinha acontecido com Ash, de Alien, Holm pegou na personagem também em videojogos.

No plano da animação, Holm deu voz ao irritado chef Skinner em Ratatui, filme de 2007 da Pixar, e trabalhou na versão inglesa de Renascimento, de Christian Volckman, entre muitos outros créditos. Nos seus últimos dias, a sua agora viúva, Sophie de Stempel, publicou na sua conta de Instagram uma série de retratos do actor a tinta pastel.

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