Médico morreu com covid-19 no Hospital de S. José

É o primeiro caso conhecido de uma morte devido à infecção pelo novo coronavírus neste grupo profissional.

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Rui Gaudencio

Um médico de 68 anos que terá sido infectado com o novo coronavírus por um colega morreu na madrugada de quinta-feira nos cuidados intensivos do Hospital de S. José, em Lisboa, onde estava internado há mais de 40 dias. É o primeiro caso conhecido de morte por covid-19 neste grupo profissional, um dos mais afectados pelo surto epidémico em Portugal. 

Especializado em medicina geral e familiar, o médico colaborava com a equipa de gastroenterologia do Hospital Curry Cabral, do mesmo centro hospitalar do S. José (Centro Hospitalar de Lisboa Central), mas não fazia parte dos quadros da instituição. Ao que tudo indica, não teria factores de risco associados, disse uma fonte hospitalar ao PÚBLICO.

A primeira morte de um médico nestas circunstâncias foi recebida com consternação pelos dirigentes da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) e do Sindicato Independente dos Médicos (SIM). “É uma infelicidade mas era um risco real. Esta morte vem provar de forma indubitável o risco que correm os profissionais que estão na frente do combate”, reagiu o presidente da FNAM, Noel Carrilho.

“Os médicos não têm qualquer regime de penosidade ou do risco”, lamentou Noel Carrilho, para quem este óbito ocorreu, por “triste coincidência”, pouco tempo depois de o primeiro-ministro ter declarado que a a escolha de Portugal para receber a fase final da Liga dos Campeões “é um prémio merecido aos profissionais de saúde”. “Os profissionais de saúde não querem medalhas nem jogos de futebol. Querem é ser reconhecidos da maneira que é normal em qualquer profissão, com melhores condições de trabalho”, acentuou.

A epidemia em Portugal “está longe de estar controlada” e são necessários “cuidados redobrados”, sublinhou o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha. “Infelizmente são cada vez mais os médicos infectados [com o novo coronavírus], como está a acontecer no IPO de Lisboa e no Amadora-Sintra. E há mais casos em medicina geral e familiar”, disse.

Segundo os últimos dados divulgados, na passada sexta-feira havia registo de 3556 profissionais de saúde infectados, dos quais 505 eram médicos e 1154 eram enfermeiros. Os outros eram assistentes operacionais (1059), assistentes técnicos (166) e técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica (108). Na conferência de imprensa em que foi feita esta actualização, a secretária de Estado Adjunta e da Saúde, Jamila Madeira, acrescentou que, face ao balanço anterior, tinham recuperado da doença 189 profissionais de saúde. 

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