Este ano regista quebra abrupta na área ardida, mas “Verão quente e seco” pode deitar tudo a perder

No caso de as condições climatéricas serem “adversas”, com um “Verão quente e seco” a atingir Portugal, o risco de grandes incêndios será “acentuado”, diz especialista.

Foto
Adriano Miranda

Desde o início de 2020, e até ontem à tarde, 16 de Junho, Portugal registava 1231 hectares de área ardida, segundo dados disponibilizados no site do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. É uma descida assinalável face a um período não muito diferente de 2019: entre 1 de Janeiro e 30 de Junho do ano passado arderam 9674 hectares. Ou seja, a redução este ano foi 87%, apesar de faltarem 14 dias para que o período em análise seja totalmente comparável.

O ano de 2017, o ano dos incêndios de Pedrógão, é de longe o que maior extensão de área ardida regista nos primeiros seis meses, em seis anos analisados: mais de 72 mil hectares (ver infografia). 

Registaram-se, desde Janeiro, 1533 incêndios rurais, de acordo Sistema de Gestão de Informação de Incêndios Florestais, que é actualizado todos os dias, várias vezes ao dia, dos quais resultaram 1231 hectares ardidos: 71% em territórios constituídos por matos; 21% em povoamentos florestais e 8% em terrenos agrícolas.

Para Rui Cortes, professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e membro do Observatório Independente dos Fogos Rurais, a descida registada — e já assinalada pelo observatório nos últimos dois anos — tem várias explicações. Desde logo, “as condições climatéricas, especialmente no Norte do país, que criaram uma precipitação considerável durante os meses de Abril e Maio”.

PÚBLICO -
Aumentar

“A relação directa entre a meteorologia e a área ardida é um factor crucial que deve ser sempre tido em conta”, explica este especialista. Paralelamente, “a obrigatoriedade de registo e de autorização para a realização de queimas e queimadas tem dado frutos”, acrescenta. “Há também uma maior consciência das pessoas em relação aos perigos dos incêndios que resultou dos acontecimentos de 2017”, sublinha.

A redução do número de ignições é também um aspecto “obviamente positivo e fundamental para que se possa controlar a área ardida e evitar que haja um grande número de ignições ao mesmo tempo, o que torna a actividade de combate muito mais complicada”.

Aquilo que segundo o investigador não parece ter sido um factor decisivo para a melhoria observada este ano foi a pandemia da covid-19, apesar de ela ter implicado uma redução da actividade humana. Há aliás uma “preocupação”: a “redução substancial das queimas durante este período”, que pode resultar numa “acumulação do material combustível” por todo o território.

No caso de as condições climatéricas serem “adversas”, com um “Verão quente e seco” a atingir Portugal, o risco de grandes incêndios será “acentuado”. Pelo que, nessas circunstâncias, o “efeito de atraso” que se viveu este ano relativamente aos incêndios, e que poderia traduzir-se em “algo positivo”, será “revertido completamente” e poderá levar à ocorrência de “grandes incêndios”.

Sugerir correcção