Educadores de Serralves temem dispensa e denunciam recrutamento de novos profissionais

Dezanove dos 25 colaboradores do Serviço Educativo da fundação denunciam represálias pelo protesto que tornaram público a 5 de Abril. Fundação nega estar a realizar novos recrutamentos, mas admite estar a fazer entrevistas.

Foto
PAULO PIMENTA

Dezanove educadores da Fundação Serralves (FS), no Porto, dizem ter provas de que está em curso um processo de dispensa da actual equipa, estando já a decorrer o recrutamento para novos profissionais.

“Após meses de tentativas de comunicação, poucas e evasivas respostas por parte da Fundação de Serralves e da Coordenação do Serviço Educativo e nenhuma alteração face à situação inicialmente denunciada a 5 de Abril em carta aberta, a equipa comunica que tem conhecimento e possui provas de estar a ser afastada e de que estão já a decorrer entrevistas na Fundação de Serralves para novos educadores”, afirmam estes trabalhadores num comunicado subscrito por 19 de 25 educadores.

De acordo com os seus subscritores, tal informação não só contraria o que a Fundação de Serralves alegou, como adensa ainda “a conjectura de se estar a iniciar um processo de dispensa da actual equipa”.

Contactada pela Lusa, a FS, entre outros argumentos, disse que “o Museu nunca procedeu a qualquer ‘recrutamento’ de prestadores” para o Serviço Educativo Artes, admitindo, por seu lado, que pode haver marcação de entrevistas, quando sabe de interessados, para conhecer as pessoas em causa.

Os educadores, no entanto, questionam a “pertinência destes novos recrutamentos”, assim como a integração na equipa de um “grupo de sete novos educadores (antes do covid-19)”, que também assinam esta carta, “e que tudo indica já estarem dispensados, exactamente por se terem posicionado e não terem ficado em silêncio”.

Consideram também que esta situação vai contra o que a FS previamente referiu de não reunir condições para chamar os seus trabalhadores, deixando muitos dos educadores em suspenso durante vários meses, e sem qualquer perspectiva de quando, ou se voltariam sequer a poder desenvolver trabalho como arte-educadores no Museu de Serralves.

Em resposta à Lusa, a FS afirma que “o Museu tem continuado a recorrer a fornecimentos externos para o seu Serviço Educativo Artes”, apesar da crise e da “enorme redução da actividade”, e continuará a fazê-lo, “de acordo com as necessidades da programação” e “utilizando, a cada momento e quando necessário, os prestadores de serviços que melhor respondam às exigências do seu público e às especificidades das actividades em causa”.

“Este processo é liderado pela Direcção do Museu em articulação com a Coordenação do Serviço Educativo Artes que, aliás, tem contactado alguns dos subscritores do comunicado para a realização de actividades, sendo que alguns destes é que têm manifestado a sua indisponibilidade para o efeito, como aliás os mesmos reconhecem, pelo que é absolutamente falso que exista um ‘processo de dispensa’ em curso dos subscritores da mesma”, esclarece a fundação, salientando estar a agir, como sempre fez, em total conformidade com a lei e de acordo com a sua prática habitual.

Serralves sublinhou ainda que “o Museu nunca procedeu a qualquer ‘recrutamento’ no que respeita aos prestadores de serviços do Serviço Educativo Artes”, acrescentando que, quando tem conhecimento de pessoas interessadas, a Coordenação de Serviço Educativo Artes pode marcar entrevistas para as conhecer e ver se reúnem as características necessárias para prestar os seus serviços ao Museu.

A FS rejeita ainda que tenha deixado em “suspenso” os subscritores da carta, tendo-lhes respondido várias vezes, ao mesmo tempo que a direcção tem explicado “claramente a sua posição”.

Num comunicado conhecido esta terça-feira, a equipa de educadores afirma que, das poucas interacções com a sua coordenação, alguns educadores têm recebido propostas de adaptação e/ou realização de oficinas que não deixam margem para negociação ou escuta das condições e necessidades dos educadores.

“Lamentamos toda a postura e falta de integridade da actual Administração para com os seus educadores, que se encontram na linha da frente a representar o bom nome da instituição todos os dias, com os mais diversos públicos”, concluem.

A 5 de Junho, na sequência da publicação de um comunicado em que 20 educadores acusavam a Fundação de Serralves de exercer represálias sobre os signatários da carta aberta de 5 de Abril, a instituição garantiu que “nenhum dos 20 signatários” do comunicado, “nem nenhum outro prestador de serviços externo (...) foi alvo de qualquer represália ou afastado, depois de ter denunciado supostos incumprimentos por parte Fundação de Serralves”.

Notícia actualizada com a resposta da Fundação de Serralves às acusações dos educadores.

Sugerir correcção