Dançar uma milonga, no fim de tudo

O Rio Grande do Sul podia ser uma jangada como a que imaginou José Saramago. É um mini-continente disputado por portugueses e castelhanos que criou uma identidade à custa de muitas lutas por terra, água, poder. É o estado mais meridional do Brasil, conservador, maioritariamente branco, miscigenado, com uma capital de vanguardas, Porto Alegre, e muitos paradoxos. Se fosse uma música seria uma milonga. E se fosse um livro?

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Um relâmpago iluminou as azáleas do pátio da frente e logo mais um trovão ameaçou partir a terra. Não foi nada. Só uma trovoada de Setembro, um frio de camisola de lã, não muito grossa, e o cheiro a lareira na rua onde um homem desistiu de varrer as folhas do chão. Abrigou-se junto a um muro. Não é nada, já passa. Na sala, o rosto de Luis Fernando Verissimo não se alterou, apesar da chuvada que se seguiu e a sensação de que toda a água desabava do céu com grande estrondo na terra. Levou a mão ao rosto e os olhos desviaram-se do foco, do que acontecia lá fora. Alguma coisa no interior da casa lhe chamou a atenção. “Aí está o livro!”, anunciou, apontando a mulher que surgiu na porta. “Minha irmã, Clarissa”, apresentou. Clarissa, nome de livro, título do primeiro romance de Érico Verissimo, nome da jovem que na literatura terá sempre 13 anos. É a filha do próprio Érico e da sua mulher, Mafalda. O romance é de 1932, a filha nasceu em 1935. “É, o livro está aqui”, brincou ela. “As pessoas quando pensam em Clarissa se surpreendem ao perceber que ela envelheceu”, ri.

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