Dia 63: por que não aparecem os filhos quando os chamamos?

Uma mãe/avó e uma filha/mãe falam de educação. De birras e mal-entendidos, de raivas e perplexidades, mas também dos momentos bons. Para avós e mães, separadas pela quarentena, e não só.

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@DESIGNER.SANDRAF

Mummy,

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Explique-me este fenómeno, sff: Por que raio é que se eu gritar o nome dos meus filhos 680 vezes só recebo um “Espere”, seguido de um “Já vou!”, enquanto se me sentar a ler um livro aparecem todos?!?!?!?!?!

Aguardo, explicação para mistério milenar.


Querida Filha,

Eureka. Não tenho a resposta, mas dizem que o importante em ciência é saber formular a questão, sintetizar o problema, e isso acabas de fazer na perfeição. Agora são mais uns milénios até se descobrir a resposta.

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É claro que posso fazer uma primeira tentativa: quando os nossos bebés estão calados muito tempo, e devíamos era aproveitar a folga para fazer outra coisa, somos tomados por uma aflição gigante que só sossega quando vamos lá ver se respiram. A mim até me acontecia a meio da noite, e ficava a odiar-me por ter cedido à compulsão de ir confirmar se vocês estavam bem, e continuo a fazê-lo com os netos. E a irritar-me por não aproveitar as horas de sono para fazer o que devia, dormir.

Talvez se passe a mesma coisa contigo. Enquanto gritas, sabem que estás bem e a cumprir com o teu papel, que é chateá-los. Quando te calas, e te escondes esperando que não te encontrem, assustam-se. Vêm confirmar. E vendo-te tão quietinha, provocam-te um bocadinho para ter a certezinha que não sucumbiste.

Parece-me que nem as mães elefantes escapam a esta contradição absurda. Um dos meus livros favoritos é o 5 Minutos de Paz, da Jill Murphy, em que a mãe elefante não consegue sequer tomar um banho de imersão sossegada, porque acabam todos dentro da banheira com ela. Só de ver a capa dá-me vontade de rir. O que, objectivamente, é a única coisa que safa a nossa sanidade mental.

Bj


No Birras de Mãe, uma avó/ mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, vão diariamente escrever-se, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. Na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Facebook e Instagram

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