Covid-19 impõe à Premier League perdas de 1,1 mil milhões de euros

Deloitte confirma pior dos cenários previstos, depois de anos consecutivos de subida das receitas. Em 2018-19, o mercado europeu gerou 28,9 mil milhões de euros de proveitos - 440 milhões em Portugal.

Foto
Reuters/Carl Recine

É somente a ponta do véu do tremendo impacto que a pandemia de covid-19 está (e vai continuar) a gerar no futebol europeu. Segundo a consultora Deloitte, a Premier League prepara-se para registar perdas na ordem dos 1,1 mil milhões de euros na sequência da paragem total das competições decretada em Março. Depois de anos de uma subida sustentada das receitas, tudo aponta para que o exercício financeiro de 2020-21 venha a ser histórico pelas piores razões.

O estudo Annual Review of Football Finance 2020, que ficou concluído há dias, faz a habitual radiografia da evolução e do rácio das receitas dos grandes campeonatos europeus, tendo por base os indicadores da temporada 2018-19. Mas a disrupção provocada pelo novo coronavírus obriga também a olhar para o momento actual e a traçar os cenários que se avizinham.

“Prevemos que a presente pandemia provoque uma quebra significativa das receitas e gere perdas operacionais um pouco por todo o futebol europeu nos resultados financeiros desta época. Os clubes estão a ser forçados a absorver múltiplos impactos, incluindo a erosão ou o adiamento das receitas comerciais ou de direitos televisivos, bem como os proveitos dos dias de jogo”, enumera Dan Jones, director do grupo de negócios de desporto na Deloitte.

Está a ser uma travagem a fundo face à evolução dos números dos últimos anos. Na temporada passada, o mercado do futebol europeu atingiu os 28,9 mil milhões de euros em receitas, 17 mil dos quais se concentram nos Big Five (os campeonatos inglês, espanhol, alemão, italiano e francês), depois de um crescimento de 9% face ao ano anterior. 

Foto

E se a locomotiva deste crescimento continua a ser a Premier League, cujos clubes viram as receitas dispararem em 5,9 mil milhões de euros (muito por força das distribuição das verbas da UEFA), mais surpreendente foi a ultrapassagem da Liga espanhola à Bundesliga. Em 2018-19, os clubes espanhóis geraram 3,4 mil milhões de euros em receitas combinadas, um pouco acima dos 3,3 mil milhões da Liga alemã e já distantes do 2,5 mil milhões da Série A e dos 1,9 mil milhões da Ligue 1, que ainda assim denotaram subidas de 11% e 12%, respectivamente.

A Europa do futebol que conhecemos, a carburar a diferentes velocidades, não deverá aproveitar este momento de crise transversal para esbater as desigualdades. Pelo menos é nesse sentido que aponta o relatório da Deloitte, prevendo que “a polarização existente venha a ser exacerbada pela pandemia, já que os clubes mais poderosos são aqueles que terão as receitas mais protegidas do ponto de vista contratual”.

“O regresso do futebol, em segurança, é importante para limitar o impacto financeiro da pandemia. O sucesso da retoma de cada Liga e a solidez da relação com os operadores e os parceiros comerciais, terão um impacto significativo no poder financeiro dos clubes e dos campeonatos”, prossegue Dan Jones.

Depois dos 440 milhões de euros de receitas obtidas em 2018-19, a Liga portuguesa é uma das provas que já voltaram aos relvados à procura de minimizar perdas, mormente através da recuperação das verbas decorrentes dos direitos televisivos - em Portugal, esta rubrica representa 232 milhões, ou seja, 52,7% do total de proveitos. Com o adiamento destes pagamentos (imposto pela paragem da prova), haverá um reflexo directo nos relatórios e contas do clubes, que acabarão por contabilizar apenas no exercício de 2020-21 parte dos montantes afectos a esta época.

 “Ainda há muita coisa que permanece incerta, particularmente no que respeita o timing e a escala do regresso dos adeptos aos estádios - e o impacto que essa medida irá ter nas receitas comerciais. A indústria do futebol espera por uma recuperação em forma de V e que o regresso a uma certa normalidade seja possível em 2021-22”, conclui o director da Deloitte.

Sugerir correcção