Covid-19. Uso generalizado de máscaras e confinamento intermitente podem evitar segunda vaga

Investigadores defendem que a utilização generalizada de máscaras e períodos intercalados de confinamento são a chave para diminuir o contágio e impedir novas vagas de infecção.

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Nuno Ferreira Santos

O uso generalizado de máscaras pela população pode reduzir o contágio da covid-19 para níveis controláveis e, quando combinado com períodos de isolamento, pode prevenir novas vagas da pandemia até que seja descoberta uma vacina eficaz. A conclusão é de um estudo britânico publicado esta quarta-feira, 10 de Junho, na revista científica Proceedings of the Royal Society A, indo ao encontro do que se tem verificado em países que aconselharam desde cedo a utilização de máscaras.

Uma equipa de investigadores das universidades britânicas de Cambridge e de Greenwich sugere que confinamento por si só não vai parar a reincidência do SARS-CoV-2, mas argumenta que até máscaras feitas em casa podem reduzir drasticamente as taxas de transmissão se uma percentagem suficiente da população as utilizar em público.

O estudo, que utilizou a população do Reino Unido como a base para a elaboração dos modelos, conclui que a combinação das duas medidas é “a melhor solução” para combater a pandemia, visto que os modelos em que eram utilizadas de forma isolada apresentaram menores reduções do R0 (0 de zero), o indicador que mede o número de contágios que acontecem quando a doença tem condições para se disseminar.

“Os modelos indicam que é necessária uma estratégia de mitigação combinada para reduzir a transmissão do patogénico para ‘achatar a curva’ [abrandar a disseminação da infecção e reduzir a intensidade da epidemia] e prevenir novas vagas de infecção”, pode ler-se na publicação.

Os modelos calculados admitiram cenários em que as máscaras começavam a ser utilizadas em quatro momentos: quando havia 100 casos e depois de 30, 60 ou 120 dias de surto. Foram também feitas simulações com diferentes percentagens de utilização de máscara por parte da população. Todos os cenários foram de 18 meses, “o tempo necessário para a descoberta de uma vacina ou até que a imposição de medidas de confinamento deixe de ser viável”.

As conclusões indicam que as máscaras são mais eficazes quanto maior for a percentagem da população que as usa e quanto mais cedo no surto forem implementadas. Num cenário ideal em que 100% da população as usa, o R0 consegue ser reduzido abaixo de 0,5, e valores do índice de propagação abaixo de 1 conseguiriam ser atingidos até com máscaras que tivessem uma eficácia de retenção de partículas de 50% ou 75%.

“Os modelos indicam que é necessária uma estratégia de mitigação combinada para reduzir a transmissão do patogénico para ‘achatar a curva’ [abrandar a disseminação da infecção e reduzir a intensidade da epidemia] e prevenir novas vagas de infecção”, pode ler-se na publicação.

Um dos autores do estudo, Richard Stutt, da Universidade de Cambridge, afirmou que os resultados “apoiam a adopção imediata e universal de máscaras”. Citado pelo El País, o investigador alertou, no entanto, que é “muito complicado” realizar estudos que meçam directamente a efectividade das máscaras.

Outros investigadores não envolvidos no estudo britânico ficaram, contudo, divididos quanto às suas conclusões. Trish Greenhalgh, professora da Universidade de Oxford, afirmou que os resultados do estudo são encorajadores e reconheceu que as máscaras “são provavelmente uma medida eficaz para a população”. Brooks Pollock, um perito em modelação de doenças infecciosas da Universidade de Bristol, afirmou que o impacto provável das máscaras poderá ser muito menor do que o evidenciado nas conclusões.

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