Marcelo assinala hoje o Dia de Portugal nos Jerónimos, em Lisboa, com programa mínimo

Esta é a última comemoração do primeiro mandato de Marcelo, que nos quatro anos anteriores criou um modelo inédito para o evento, dividindo a efeméride entre Portugal e as comunidades lusófonas espalhadas pelo mundo. Este ano não haverá desfile das forças em parada nem convidados.

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O Presidente da República durante o discurso da cerimónia do 10 de Junho no ano passado, em Portalegre. LUSA/NUNO VEIGA

O Presidente da República assinala hoje o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas com um programa mínimo no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, onde estarão apenas os dois oradores e seis convidados.

Devido à pandemia de covid-19, Marcelo Rebelo de Sousa cancelou as comemorações do 10 de Junho que estavam previstas para a Região Autónoma da Madeira e África do Sul e optou por fazer em Lisboa uma cerimónia “pequena, simbólica”, como no seu entender deveriam ter sido celebrados o 25 de Abril e o 1.º de Maio.

A cerimónia terá início às 11h00, com o içar da bandeira e o hino nacional executado pela Banda da Força Aérea no exterior do Mosteiro dos Jerónimos, onde haverá uma guarda de honra formada por cadetes dos três ramos das Forças Armadas, e está previsto que termine pelas 11h40, após a intervenção do chefe de Estado.

Antes, discursará o cardeal e poeta madeirense Tolentino Mendonça, escolhido por Marcelo Rebelo de Sousa para presidir a estas comemorações do Dia de Portugal. Os discursos serão proferidos nos claustros do mosteiro, depois de o Presidente da República depor uma coroa de flores no túmulo de Camões e prestar homenagem aos mortos em combate, na Igreja de Santa Maria de Belém, dentro do mosteiro.

Os seis convidados presentes correspondem aos primeiros lugares da lista de precedências do protocolo do Estado, que é encabeçada pelo chefe de Estado, seguindo-se o presidente da Assembleia da República, o primeiro-ministro e os presidentes do Supremo Tribunal de Justiça, do Tribunal Constitucional, do Supremo Tribunal Administrativo e do Tribunal de Contas.

Numa entrevista à TVI na semana passada, o primeiro-ministro, António Costa, considerou que o Presidente da República “quis dar um sinal de sobriedade especial na comemoração deste 10 de Junho, não só por razões de saúde pública, mas também porque o país vive um momento particularmente emotivo” e que a sua decisão “é um gesto de respeito por todos que é muito importante”.

Nos quatro anos anteriores do seu mandato, Marcelo Rebelo de Sousa assinalou o 10 de Junho com um modelo inédito de duplas comemorações, em Portugal e junto de comunidades portuguesas no estrangeiro, lançado no ano da sua posse, em 2016, em articulação com o primeiro-ministro, António Costa, e com a sua participação.

O último 10 de Junho deste mandato de Marcelo

Este é o último Dia de Portugal do actual mandato presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa. Em 2016 as cerimónias decorreram entre Lisboa e Paris, em 2017 entre o Porto e o Brasil, em 2018 entre os Açores e os Estados Unidos da América e em 2019 entre Portalegre e Cabo Verde. As cerimónias começavam no dia 9 de Junho e estendiam-se por mais dois dias, ou mesmo três, com programas praticamente sem intervalos e complexas operações logísticas para assegurar a atempada deslocação de todos os envolvidos.

Com este modelo, o chefe de Estado e Comandante Supremo das Forças Armadas fazia dois discursos nesta data, um mais solene, no dia 10 de manhã, numa cerimónia militar em território português, e outro mais emotivo, ao fim do dia, perante comunidades portuguesas no estrangeiro - ou, como prefere dizer, no “território espiritual” da nação.

Marcelo Rebelo de Sousa dedicou as suas intervenções sobretudo à exaltação do povo e de Portugal, duas das palavras que mais repetiu, falando numa pátria de carácter “universal”. Dedicou sempre um elogio aos emigrantes e tornou-se uma marca sua engrandecer os portugueses e Portugal proclamando-os “os melhores”.

No seu primeiro 10 de Junho como Presidente da República, fez uma intervenção no Terreiro do Paço, em Lisboa, a aclamar “o povo armado” e “não armado” construtor da identidade nacional e o papel das Forças Armadas para a liberdade e a independência. No ano seguinte, a cerimónia militar decorreu no Porto, onde abriu o discurso defendendo um Portugal “independente do atraso, da ignorância, da pobreza, da injustiça, da dívida, da sujeição” e “livre da prepotência, da demagogia, do pensamento único, da xenofobia e do racismo”.

Em 2018, em Ponta Delgada, na ilha açoriana de São Miguel, afirmou Portugal como um país destinado a um “universalismo fraternal”, que prefere “a paciência dos acordos, mesmo se difíceis, à volúpia das roturas, mesmo se tentadoras” e “o multilateralismo realista ao unilateralismo revivalista”. No ano passado, em Portalegre, enalteceu a resistência de Portugal, salientando que está a menos de três décadas de comemorar 900 anos como nação independente, e disse que os portugueses são “muito mais do que fragilidades ou erros” e não têm complexos em relação ao seu passado.

Ao mesmo tempo, no entanto, avisou que não se pode nem deve omitir ou apagar “fracassos colectivos” e “erros antigos ou novos”, acrescentando: “Não podemos nem devemos esquecer ou minimizar insatisfações, cansaços, indignações, impaciências, corrupções, falências da justiça, exigências constantes de maior seriedade e ética na vida pública.”

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