Covid-19: Famílias de vítimas italianas apresentam queixa na justiça

As queixas foram apresentadas em Bérgamo por ser o “símbolo da tragédia que afectou todo o país”. Os autores apresentam os dramas vividos por cada família, como falta de informação ou maus cuidados aos doentes.

Foto
Os mortos foram tantos em Bérgamo que foram chamados militares para os transportarem para cemitérios em cidades vizinhas LUSA/Andrea Fasani

Familiares de vítimas do novo coronavírus apresentaram nesta quarta-feira 50 queixas no Ministério Público de Bérgamo, cidade no norte de Itália, que foi o epicentro da epidemia em Itália entre o início de Fevereiro e Maio. É a primeira acção judicial deste tipo no país, onde a epidemia provocou quase 34.000 mortos.

Acompanhados pelos seus advogados, elementos da Comissão Verdade e Justiça para as Vítimas da Covid-19, criada no Facebook e que conta 55.000 membros, apresentaram as queixas. “Não queremos vingança, queremos justiça”, disse um dos fundadores do grupo, Stefano Fusco, 31 anos, cujo avô morreu em Março.

As queixas foram apresentadas em Bérgamo por ser o “símbolo da tragédia que afectou todo o país”, afirmou Fusco, citado pela agência francesa AFP.

Nas queixas, os autores apresentam os dramas vividos por cada uma das famílias individualmente, como falta de informação, maus cuidados ou o tratamento dado aos doentes.

O Ministério Público decidirá então se deve ou não instaurar um processo e, em caso afirmativo, como classificar os factos.

Cristina Longhini, uma farmacêutica, contou que perdeu o pai, de 65 anos, que estava “em grande forma quando foi infectado” e morreu num hospital em Bérgamo.

Inicialmente, as urgências recusaram-se a admitir o pai da farmacêutica, porque “não estava com dificuldades respiratórias” e no hospital exclusivo para a covid-19 em Bérgamo não havia camas disponíveis nos cuidados intensivos.

“E quando ele morreu, esqueceram-se de nos chamar. Fui finalmente identificar o seu corpo, ele mal era reconhecível, a boca aberta, os olhos inchados das suas órbitas, com lágrimas de sangue”, descreveu Cristina Longhini.

“Deram-me os seus pertences pessoais, incluindo roupas ensanguentadas - e, portanto, contaminadas - num saco do lixo”, contou.

Como os cemitérios locais estavam cheios, o seu caixão foi transportado, juntamente com outros, num camião militar para um destino desconhecido da família, que finalmente descobriu que o corpo tinha sido cremado a 200 km de distância quando recebeu a conta da funerária pelo correio.

Itália é um dos países mais atingidos pela pandemia de covid-19, uma doença detectada inicialmente na cidade chinesa de Wuhab, em Dezembro do ano passado, e que já matou cerca de 408 mil pessoas no mundo.

Sugerir correcção