Abertos dois inquéritos a caso de doente que morreu após seis horas de espera na urgência

Paciente tinha 42 anos e tinha-se deslocado ao hospital de Leiria com dores no peito. Morreu após seis horas à espera de ser atendido.

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Rui Gaudencio

A Ordem dos Médicos instaurou um inquérito disciplinar à equipa que estava de serviço no hospital de Leiria quando um utente morreu nas urgências, após seis horas de espera, tendo a unidade hospitalar também aberto um inquérito.

O caso foi noticiado esta segunda-feira pelo Jornal de Notícias (JN), que indica que tudo aconteceu entre o final da tarde de 26 de Maio e a madrugada do dia seguinte. O paciente de 42 anos, sem antecedentes de problemas cardíacos, ter-se-á deslocado à urgência com dores no peito e suores. Chegou por volta das 20h15 e, segundo fonte clínica citada pelo jornal, foi atendido na triagem às 20h44 por apresentar “dor no peito, sudorese [transpiração excessiva] e hipertensão”. O enfermeiro que o avaliou atribuiu-lhe uma pulseira amarela (caso considerado urgente)​, o terceiro de cinco graus de gravidade, que implica que o doente deve ser observado num período máximo de uma hora.

O JN diz que às 0h45 o processo do doente foi consultado por um médico interno, mas não haverá registo de qualquer consulta. O doente acabou por morrer às 3h, após avisar uma enfermeira que não se sentia bem. Foi levado para a sala de reanimação, mas não foi possível reverter a situação.

“Temos uma situação de um utente de 42 anos com uma dor torácica, que aguardou seis horas para ser atendido nas urgências, acabando por morrer com um enfarte”, disse o presidente da secção regional do Centro da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, à agência Lusa. Segundo este responsável, trata-se de uma situação “muito grave”, pelo que a Ordem dos Médicos (OM) instaurou um processo disciplinar “urgente, para averiguar se houve ou não responsabilidade médica”. “Não podemos tolerar uma situação desta gravidade”, reforçou Carlos Cortes. 

O presidente da secção regional do Centro da OM sublinha que, tendo em conta as queixas do paciente, “era uma situação para ser atendido imediatamente”. "A OM tudo fará para clarificar o que se passou e, se for caso disso, aplicar as sanções adequadas. O Conselho Disciplinar da OM também já pediu informação ao hospital. A população tem de ter uma mensagem de confiança. O hospital também tem de dar explicações à população”, acrescentou.

Em resposta à Lusa, o conselho de administração do Centro Hospitalar de Leiria, do qual faz parte o Hospital de Santo André, em Leiria, informa que, “ao tomar conhecimento da situação, procedeu à abertura de um processo de inquérito para apuramento dos factos, e agirá em conformidade com as conclusões deste procedimento”. O PÚBLICO dirigiu à mesma unidade um pedido de esclarecimento, encontrando-se a aguardar pela resposta.

Este caso é muito semelhante a um outro que ocorreu em Fevereiro na urgência do Hospital de Lamego. Um homem de 65 anos, doente pulmonar crónico, deu entrada na urgência daquela unidade por volta das 14h de segunda-feira com dificuldade respiratória. Apesar de os familiares terem pedido ajuda e de ele ter vomitado entretanto, o pessoal de serviço na urgência disse que teria de aguardar. O utente acabou por morrer na sala de espera já ao início da noite, às 20h, segundo relataram os seus familiares e vizinhos, que acusaram o hospital de negligência. 

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