O republicano Mitt Romney voltou a aproximar-se da Casa Branca, agora para gritar “black lives matter

Senador que votou a favor da condenação do Presidente Trump no processo de impeachment esteve numa marcha anti-racismo e contra a violência policial. Agora, pedem-lhe que declare o seu apoio a Joe Biden nas eleições de Novembro.

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Romney partilhou no Twitter uma fotografia da marcha Reuters/MITT ROMNEY

Há oito anos, no Verão de 2012, os candidatos do Partido Republicano e do Partido Democrata à Casa Branca trocavam acusações de golpes baixos no auge de uma campanha eleitoral marcada por uma vaga de anúncios televisivos negativos.

Menos de uma década depois, as mudanças que ocorreram nos últimos anos na política norte-americana criaram um cenário que era impensável naquela altura.

No domingo, um daqueles candidatos em 2012, o senador republicano Mitt Romney, marchou ao lado dos manifestantes anti-racismo e contra a violência policial, em Washington, em direcção a uma Casa Branca onde se encontrava o Presidente Trump – o homem que lhe sucedeu como representante máximo do Partido Republicano em 2016 e o grande rival do outro candidato naquela campanha conturbada de 2012, o Presidente Obama.

Exemplo do pai

“Quero encontrar uma forma de acabar com a violência e com a brutalidade, e garantir que as pessoas percebem que as vidas dos negros são importantes”, disse o senador do Utah ao jornal Washington Post, enquanto marchava pelas ruas da capital norte-americana com um milhar de evangélicos e mórmones.

Durante a marcha, Romney partilhou no Twitter uma selfie tirada no meio de manifestantes que erguiam cartazes com frases como “o racismo mata” e “sem justiça não há paz”. A acompanhar a imagem, apenas uma frase: “Black Lives Matter” (a vidas nos negros são importantes).

No sábado, durante uma manifestação anti-racismo que levou mais de dez mil pessoas a Washington, o senador republicano partilhou na mesma rede social uma fotografia do seu pai, o ex-governador do Michigan George Romney, a marchar ao lado de afro-americanos em Detroit, na década de 1960, na luta pelos direitos cívicos no país.

“Os motins não podem ser eliminados apenas com a força. Temos de eliminar os problemas que estão na sua base”, disse George Romney na época, uma frase citada no fim-de-semana por Mitt Romney.

Longa rivalidade

O senador do Utah é um dos poucos republicanos que tem mantido a sua oposição pública ao Presidente Trump desde a campanha eleitoral de 2016. Em Março desse ano, Romney fez um discurso em que chamou “uma fraude” a Trump, numa altura em que o magnata do imobiliário era o favorito à nomeação.

A rivalidade entre os dois agravou-se meses depois, em Novembro de 2016, quando Trump já tinha sido eleito Presidente dos Estados Unidos e procurava formar o seu Governo.

Nessa altura, Romney chegou a ser falado para ocupar o cargo de secretário de Estado e teve uma reunião com Trump, que terminou com um aperto de mão – ficou famosa uma fotografia do jantar entre os dois, à luz das velas, com sorrisos para a câmara.

Essas conversações fracassaram e até hoje não se sabe qual foi a intenção de Trump ao convidar Romney, que o tinha humilhado meses antes. Segundo Roger Stone, amigo e antigo conselheiro de Trump, o então Presidente eleito só quis “torturar” Romney.

A cisão entre os dois republicanos atingiria o ponto mais alto em Fevereiro passado, quando Mitt Romney votou a favor da condenação do Presidente Trump no julgamento do impeachment – o único republicano a fazê-lo.

A presença do senador do Utah na marcha anti-racismo em Washington, no domingo, é a mais recente manifestação anti-Trump no topo do Partido Republicano.

Na semana passada, o ex-Presidente George W. Bush pôs-se ao lado dos protestos contra a “brutal asfixia” do afro-americano George Floyd e criticou o uso excessivo da força sobre os manifestantes. E o antigo secretário da Defesa da Administração Trump, o general Jim Mattis, acusou o Presidente norte-americano de “tentar dividir o país”.

No Twitter, vários seguidores do senador Mitt Romney pediram-lhe para ir mais longe e juntar-se ao antigo secretário de Estado Colin Powell, que anunciou, no domingo, o seu apoio ao candidato do Partido Democrata nas eleições de Novembro, Joe Biden.

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