Portugueses têm confiança na ciência e apoiam restrições

Inquérito do Iscte – Instituto Universitário de Lisboa baseou-se em entrevistas telefónicas a 1411 pessoas entre 29 de Abril e 12 de Maio.

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Estrada Municipal que liga São Marcos (Serpa) e Paymogo (Espanha) encerrada ao trânsito em Março de 2020 Miguel Manso

A pandemia reforçou a confiança dos portugueses na ciência e a maioria defende a continuidade de restrições para evitar o aumento da propagação do novo coronavírus, aponta um estudo de opinião pública sobre a comunicação da covid-19.

Com entrevistas a 1411 pessoas, o inquérito visou perceber as fontes de informação privilegiadas pela população, o nível de confiança depositado e a percepção de risco sobre a doença provocada pelo vírus SARS-CoV-2.

A investigadora Marta Entradas, do Iscte – Instituto Universitário de Lisboa, realça à agência Lusa a surpresa pela “elevada confiança na ciência”, com 87% dos inquiridos a subscrever a ideia de que a ciência vai resolver esta crise sanitária e 81% a pedir maior atenção dos políticos aos cientistas.

Segundo os resultados preliminares do estudo, 98% dos entrevistados assumem ter alguma (27%) ou muita (71%) confiança nos médicos e outros profissionais de saúde como fontes de informação, surgindo a seguir o grupo de cientistas e investigadores, com 93%. Os números traduzem a credibilidade, a clareza e utilidade das informações destes profissionais, à frente de instituições nacionais de saúde, organizações internacionais, comunicação social, políticos e, por último, as redes sociais.

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A investigadora Marta Entradas DR

“Talvez a surpresa maior tenha sido no quão alinhada está a opinião pública sobre a doença, com o tom da informação que tem sido passada pelos vários actores, quer políticos, quer jornalísticos, quer a maioria das vozes de especialistas na matéria. Não há, digamos, debate como vemos, por exemplo, na Alemanha, onde a falta de consenso entre especialistas tem levado a opiniões mais divididas entre as pessoas”, afirma Marta Entradas.

Uma das observações do inquérito aponta também para “alguma sensibilização da população para as chamadas fake news, suportada na menor credibilidade e maior alarmismo reconhecidos pelos inquiridos nas redes sociais. Com efeito, apenas 4% consideram “muito útil” a informação adquirida através de Facebook e Twitter, enquanto 16% definem-na como “nada útil”, muito atrás de fontes científicas, autoridades de saúde, jornalistas ou políticos.

As redes sociais, por onde se propagam muitas das fake news que ocupam o espaço mediático, foram apenas a quarta fonte regular (34%) de informação, mas essa fonte está à frente da imprensa escrita (somente 24% indicou a resposta “regularmente) e do contacto directo com médicos e outros profissionais de saúde (18%).

De acordo com os resultados, os meios de comunicação mais tradicionais, como a televisão e a rádio, foram os eleitos no acesso regular à informação (86%), superando o contacto com amigos e familiares (48%) e as páginas na Internet de fontes institucionais (44%), como a Direcção-Geral da Saúde ou o Governo.

Paralelamente, oito em dez dos inquiridos entende estar a ser transmitido um nível de alarme “adequado” sobre a covid-19, apesar de quatro em dez considerarem “contraditória e confusa” a mensagem sobre a pandemia.

A maioria (53%) concorda totalmente em considerar ainda a covid-19 mais grave do que uma gripe sazonal e 95% subscreve a preocupação com o novo coronavírus, sendo que três quartos pensa estar em risco de contrair a doença no futuro próximo.

Nesse sentido, 64% dos participantes no inquérito conduzido pela investigadora Marta Entradas defendem que as “restrições deviam continuar em vigor por mais tempo”, contra apenas 33% que respondem que as “restrições em vigor deviam ser reduzidas”. Já sobre o nível de concordância face ao isolamento social, 76% advogam que este tem de ser restrito para evitar ao máximo a propagação da doença.

A informação foi recolhida através de entrevista telefónica, pela GfK Metris, entre os dias 29 de Abril e 12 de Maio de 2020. O universo deste estudo é constituído por pessoas com 18 e mais anos, residentes em Portugal continental em lares com telefone fixo. Foram realizadas 1411 entrevistas, numa amostra proporcional à população portuguesa. A margem de erro é de 1,6% para um intervalo de confiança de 95%.

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