Marcelo foi aos Açores pedir equilíbrio entre saúde e economia na “construção do futuro” do país

O Presidente da República visitou o arquipélago durante três horas para expressar solidariedade às vítimas da covid-19 e prometeu voltar em Agosto.

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A visita foi rápida e serviu para “saudar os açorianos” por já não terem casos activos de covid-19 LUSA/EDUARDO COSTA

Passava pouco das 13h quando Marcelo Rebelo de Sousa aterrou no aeroporto João Paulo II, em Ponta Delgada. Aos jornalistas, ainda no aeroporto, garantiu que apresentou um teste negativo à covid-19, cumprindo uma das exigências a quem chega aos Açores.

A visita foi rápida e serviu para “saudar os açorianos” por já não terem casos activos de covid-19. Ainda no aeroporto, o Presidente da República comentou as recentes manifestações em homenagem a George Floyd para expressar confiança nas entidades de saúde. “Eu tenho confiado muito nas autoridades sanitárias, portanto espero que as autoridades sanitárias vão definindo regras para aquilo que em cada momento é o exercício do direito de reunião e direito de manifestação”.

Poucas palavras depois, o chefe de Estado seguiu para Nordeste, o concelho açoriano mais afectado pela covid-19 que dista cerca de uma hora do aeroporto. No total, aquela vila de uma das extremidades da ilha de São Miguel, com perto de cinco mil habitantes, registou 54 casos e 12 das 16 mortes por covid-19 na região. Todas as mortes ocorreram no mesmo lar de idosos.

“É uma grande alegria, nem imaginam quanto, o poder estar aqui convosco”, disse Marcelo Rebelo de Sousa no primeiro ponto de paragem da visita: o centro de divulgação florestal, onde se reuniu com o presidente do Governo Regional dos Açores, Vasco Cordeiro. As cerca de vinte pessoas que ali estavam interromperam os seus churrascos ao ar livre para ouvir o chefe de Estado numa bela tarde de sol em São Miguel.

EDUARDO COSTA/LUSA
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“A hora que se vive aqui e que se vive em Portugal como um todo é uma hora de responsabilidade e de construção do futuro. De responsabilidade, porque tem de se equilibrar preocupações da saúde com preocupações económicas e sociais”, disse, referindo ser necessário dar “pequenos passos na abertura da vida económica e social”, uma vez que já está ultrapassada a “pior fase da pandemia”.

Nos Açores, o pior parece mesmo que já passou – em termos sanitários. A região está desde a semana passada sem casos activos de covid-19, depois de 146 infectados em seis ilhas: 108 em São Miguel, 11 na Terceira, cinco na Graciosa, sete em São Jorge, dez no Pico e cinco no Faial. Flores, Corvo e Santa Maria mantiveram-se imunes ao novo coronavírus.

Ainda assim, além de ser necessário manter as “cautelas”, é preciso também começar a recuperar a economia. Para isso, o turismo é fundamental e Marcelo Rebelo de Sousa quis deixar uma “mensagem de esperança” aos açorianos: “O turismo vai regressar, a actividade económica vai desenvolver-se e haverá, em termos sociais, a preocupação de irmos mais longe e de fazermos mais e melhor”, disse.

As medidas restritivas que os Açores implementaram na contenção da covid-19 – criação de cercas sanitárias em todos os seis concelhos de São Miguel e quarentenas obrigatórias a quem chega à região, por exemplo – tiveram impactos significativos no imediato da economia regional, mas Marcelo acredita que poderão trazer frutos para a retoma do turismo no arquipélago, porque é uma “situação muito rara na Europa e no mundo”. “Tem sido assinalado mesmo internacionalmente”, referiu, sugerindo em seguida que “os Açores podem ser, do ponto vista turístico, redobradamente um bom destino, um magnifico destino para meses próximos”.

E, ali mesmo, o arquipélago ganhou um turista para os próximos meses. Marcelo Rebelo de Sousa vai querer aproveitar o destino “magnífico” durante o mês de Agosto. Marcelo, o cidadão, prometeu regressar à região por “três, quatro, cinco dias”, para demonstrar como é “singular a experiência dos Açores”. Ficou feita a promessa.

Ao lado de presidente do governo açoriano, Marcelo avançou que as eleições regionais, marcadas para este ano, devem mesmo acontecer. Se chegou a pairar a possibilidade de não ocorrerem devido à pandemia, para o Presidente da República “é possível” realizar as eleições, tendo em conta a situação de “hoje” e dos “próximos meses”. “Vou ouvir as posições dos partidos sobre a fixação concreta das datas das eleições”, ressalvou, ainda assim.

Durante a pandemia, o Governo dos Açores tentou impedir a chegada de voos à região vindos do exterior. A operação da Azores Airlines, empresa pública regional, foi suspensa e a Ryanair cancelou os voos para o arquipélago. Apenas a TAP continuou a voar para São Miguel e Terceira. Vasco Cordeiro pediu a António Costa para fechar o espaço aéreo, mas o Governo da República não acedeu. A 19 de Maio, Pedro Nuno Santos, ministro com a tutela, disse na Assembleia da República que a manutenção dos voos da TAP para as regiões autónomas tinha sido uma “decisão muito firme” do Governo. Um assunto que Marcelo Rebelo de Sousa não quis comentar. Apenas disse que as “histórias que acabam bem” merecem que esse final “não seja perturbado por discussões” sobre o que “porventura poderia ter acontecido”.

Do centro florestal, o Presidente da República saiu para o centro de saúde do Nordeste, onde foi recebido pelos profissionais de saúde da instituição. “Queria agradecer-vos a todos e a todas. É um exemplo a nível nacional, um exemplo para todos nós, para todos os portugueses”, disse Marcelo, após a enfermeira chefe ter relevado que nenhum profissional do centro de saúde foi infectado. Apesar de outras “situações críticas” no continente, o Presidente da República garantiu ter acompanhado “com particular emoção e solidariedade” a situação do Nordeste. No final, foi Marcelo que pediu para tirar uma fotografia com todos – e deu a indicação quanto ao melhor ângulo: “A fotografia tem de ser de cima para cabermos todos”.

Dali, a comitiva seguiu e pé para o lar de idosos. Cá fora, e sem entrar na instituição, Marcelo Rebelo de Sousa foi recebido pelo provedor da Santa Casa da Misericórdia, responsável pelo lar. “Vim aqui porque aqui se viveu um momento mais doloroso, na vida das pessoas e da comunidade. A solidariedade é isso”, referiu. Meia hora depois, cerca de três horas após ter aterrado na região, Marcelo Rebelo de Sousa seguiu para o aeroporto numa visita mais simbólica do que política.

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