Cartas ao director

Apoio do PS a Marcelo seria erro político

Fala-se muito na hipótese de o PS apoiar Marcelo para Belém, mas penso que seria um erro político, com consequências, porventura graves, para os socialistas. A melhor solução, como já disse no PÚBLICO em texto recente, é não ter candidato e dar liberdade de voto aos militantes e simpatizantes, tal como nas últimas presidenciais. O apoio a Marcelo afectaria, seguramente, o relacionamento do PS com os partidos à sua esquerda, pondo também em risco a eventual eleição presidencial de António Costa em 2026. O PCP e o BE não votariam num candidato de partido comprometido com a direita. E não estou a ver que o PSD ou o CDS o fizessem. Além do mais, o apoio dos socialistas ao actual Presidente seria contranatura. Um partido que se reclama de esquerda, como o PS, não deveria associar-se a candidato presidencial, como Marcelo, ultracatólico, mesmo fanático, por vezes. E que se candidatou a Belém, em 2016, por haver, segundo disse, demasiada esquerda na sociedade portuguesa. O PS só decide a questão presidencial em Dezembro, quando reunir a Comissão Nacional do partido. O curto espaço de tempo que faltará para as eleições de Janeiro faz supor que a liberdade de voto, sem candidato, será a opção mais provável. As declarações avulsas que têm surgido de apoio a Marcelo, por parte de alguns socialistas, não passam de folclore político.

Simões Ilharco, Lisboa

O politicamente correcto da economista

No PÚBLICO do pretérito dia 3 foi dado à estampa um artigo da economista Maria João Marques que focava o problema do racismo a propósito da morte de George Floyd perpetrada por um polícia de Mineápolis. Em abstracto, não deixo de subscrever o que foi expendido pela economista, mas, no concreto, a realidade é diferente ou poderá assumir nuances. Por exemplo: que interessará aos leitores do PÚBLICO saber que o Presidente Trump teve relações com uma acrtiz pornográfica quando a mulher de Trump tinha tido um filho há poucos meses? Quantos políticos (públicas virtudes/vícios privados) por este mundo fora não terão relações extraconjugais com escorters girls que até dariam boas actrizes pornográficas? Porque é que a direita – sempre conotada com o abuso e com o mal, o que não é verdade - não há-de defender “o identitarismo, branco, masculino, rural, heterossexual e cristão”? Por fim,  Maria João Marques no seu artigo afirma que “o discurso político, inclusive, sobre o racismo, continua a ser comandado por quem de direito: brancos”. Queria que fosse comandado por seres inefáveis e angelicais? Num aspecto estou inteiramente de acordo com a economista. Na verdade, vivemos num mundo onde as desigualdades, incluindo as raciais, estão mais visíveis. Poder-se-ão atenuar bastante, acredito, mas sempre foi assim e será. A natureza humana tem destas coisas e, por isso, estou mais perto da visão hobbesiana do que da visão rousseana que não deixa de ser bem intencionada, lírica e romântica. Se bem que esta visão possa contribuir para a dignidade do ser humano. É tudo uma questão de doseamento que os políticos têm nas mãos.

António Cândido Miguéis, Vila Real

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