Pior que o racismo é a pobreza e a desigualdade social…

O trabalho realizado pela comunicação social, pelos Social Justice Warriors, pelos políticos de esquerda e todos os virtuosos das redes sociais afasta-nos desta questão. Colocam classes raciais contra classes raciais, numa luta horizontal quando a luta deveria ser vertical, de acumulação versus distribuição equitativa de riqueza.

Divide et impera
Julius Caesar

Um homem morreu, asfixiado debaixo do joelho de um polícia após oito minutos agonizantes. Uma morte trágica que acabou com o polícia demitido, detido, a mulher a pedir o divórcio e acusado de homicídio. Oito minutos que acabaram com duas vidas, de dois homens que, coincidência das coincidências, tinham trabalhado “lado a lado” como seguranças num estabelecimento.

No entanto, a brutalidade desta morte, o polícia ser branco e o homem assassinado ser negro, levou ao segundo capítulo do Black Lives Matter, com uma revolta social contra o “racismo sistémico e estrutural” que reina nos Estados Unidos.

Só há um problema… quando contemos a emoção que o assunto suscita e nos focamos nos dados, apesar da complexidade do assunto, torna-se difícil justificar a existência de um “racismo sistémico e estrutural”.

Em 2019, das 1004 pessoas mortas pela polícia, 235 eram negras, representando cerca de 25% do total. Estes números têm-se mantido estáveis desde 2015. Dado que apenas 13% da população é negra, seria de pensar que o número de mortos pela polícia é desproporcional, indiciando um viés racial contra os negros. No entanto, se considerarmos que 53% dos homicídios e 60% dos roubos (conhecidos) são realizados por afro-americanos, então esse viés desaparece.

Um estudo publicado em 2019 vem, no fundo, demonstrar o óbvio. Quanto mais frequentemente os polícias encontram determinadas “raças” a cometer crimes, maior a probabilidade de serem mortos pelos polícias. Não se encontrou qualquer evidência de viés racial na forma como os polícias lidam com estes casos. Também se verifica que por cada 10.000 crimes violentos, são mortas quatro pessoas brancas versus três pessoas negras. Mais uma vez demonstrando que as mortes estão relacionadas com a frequência de crimes e não com o viés racial. A inexistência desse viés foi observada num estudo publicado em 2018, que fez uma análise abrangente do tema. Em 144 parâmetros avaliados, apenas um parâmetro indiciava a existência de viés racial na forma como a polícia lidava com pessoas negras.

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A morte de George Floyd gerou uma onda de comoção global REUTERS/Lucas Jackson

E quando analisamos os homicídios inter-raciais, que representam 12% dos homicídios nos Estados Unidos, verificamos que 500 foram cometidos por negros que assassinaram brancos versus 229 brancos que assassinaram negros. Isto é uma brutalidade se considerarmos, mais uma vez, que os negros representam apenas 13% da população.

O problema não é de raça, é de pobreza e desigualdade social

Analisando os dados acima, é difícil concluir pela existência de um viés racial. Mas existe claramente um viés de pobreza e desigualdade social. Os afro-americanos são o grupo com a maior taxa de pobreza nos Estados Unidos, seguido dos hispânicos. Sabemos que quanto mais pobreza e desigualdade social, independentemente da raça, existe mais crime (1,2, 3). Aliás, a tendência para a violência e criminalidade observa-se logo nas crianças, sendo mais frequente nas famílias pobres.

Sabemos também o oposto. Menor desigualdade económica leva a menor criminalidade. Programas de redução de pobreza infantil reduzem o crime. Dar emprego a ex-reclusos reduz em dez vezes a probabilidade de reincidência. No fundo, para acabar com a violência e o crime, devemos combater a pobreza.

Por isso, o trabalho realizado pela comunicação social, pelos Social Justice Warriors, pelos políticos de esquerda e todos os virtuosos das redes sociais afasta-nos desta questão. Colocam classes raciais contra classes raciais, numa luta horizontal quando a luta deveria ser vertical, de acumulação versus distribuição equitativa de riqueza.

A esquerda do proletariado ajuda, de forma consciente ou inconsciente, a manter o status da direita liberal ao perderem-se em guerras que nada resolvem, com indignações que não ajudam ninguém. Enquanto isso, os sindicatos para a proteção dos trabalhadores são dizimados. Os ricos pagam cada vez menos impostos. A desigualdade económica continua astronómica e sem solução à vista.

O ruído impera. Divide-se para reinar, muito graças ao aparecimento do “filhos de Foucault” e os seus Grievance studies, que não são mais do que ideologias marxistas disfarçadas de ciência, desmontadas por diversas vezes pela Academia (1, 2, 3) e que serviram para a introdução deste ativismo horizontal baseado nos conceitos pós-modernos do estilo “racismo sistémico estrutural institucionalizado, perpetuado pelo patriarcado”.

Não quero com isto negar a existência de racismo. Aliás, os tribalismos, o in group bias e o out group bias fazem parte da nossa base comportamental evolutiva. Devemos, através da cultura e educação, lutar contra isso. No entanto, um trabalho enorme foi feito em vários países desenvolvidos contra essa tendência comportamental primitiva que é muitas vezes ignorada por estes novos “ativistas”.

Pior, o ruído impede de ver a floresta, quando apenas olhamos para a árvore. Só para o leitor perceber o problema da heurística da disponibilidade, quando analisamos os dados percebemos que existe um grupo muito mais afetado pelo “viés racial” e vítima da violência policial, mas que raramente são notícia: os nativo-americanos. A comunicação social e os “ativistas” não ditam os factos, mas orientam as narrativas.

Para terminar, aconselho a leitura do artigo The Racist Treadmill, de Coleman Hughes, sobre as disparidades raciais e alguns mitos associados ao tema. E se tiverem um verdadeiro interesse no tema, o livro The Madness of Crowds: Gender, Race and Identity, de Douglas Murray.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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