Desde 30 de Abril que a área de Lisboa tem casos de covid-19 acima da média nacional

Grande dispersão da doença no continente, que se registou em Abril e Maio, tem sido substituída por uma concentração geográfica cada vez mais evidente, com os municípios da AML a apresentarem uma subida de casos, enquanto no Norte há uma descida consistente.

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Os novos casos estão mais concentrados em Lisboa e na sua área metropolitana Daniel Rocha

Depois de um período em que a covid-19 se espalhou, de forma heterogénea, por grande parte do território nacional, as últimas semanas têm levado a uma acentuada concentração de casos, com destaque para a diferença de comportamento nas duas grandes áreas metropolitanas, do Porto e Lisboa. “Regista-se o progressivo abrandamento do número de novos casos na Área Metropolitana do Porto [AMP] e, por sua vez, o progressivo aumento do número de novos casos na Área Metropolitana de Lisboa [AML], registando esta região valores acima da média nacional desde o dia 30 de Abril”, lê-se nos Indicadores de contexto para a pandemia covid-19 em Portugal, divulgados esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE).

A compilação de dados confirma aquilo que já tem vindo a ser revelado nas últimas semanas, no que se refere à forma como a doença se tem espalhado pelo país, ou nas zonas mais afectadas pelo desemprego, com o Algarve em destaque pela negativa. 

Partindo do número de óbitos no país, entre 1 de Março e 24 de Maio deste ano, e com dados que são apresentados como sendo ainda preliminares, o INE indica que houve mais 2374 óbitos este ano do que em igual período do ano passado. Um acréscimo que se fez sentir, na sua esmagadora maioria, entre a população com 75 anos ou mais, responsável por 2262 dessas mortes “em excesso”.

Um indicador que estará ligado à disseminação da covid-19 - que levou à morte, sobretudo, de pessoas mais velhas -, apesar de informações anteriores darem conta que este acréscimo de óbitos terá de ser explicado também por outros factores, já que nem todos eles caberão nos números de mortes pela doença que foi declarada como pandemia pela Organização Mundial de Saúde a 11 de Março.

No que se refere exclusivamente à covid-19, o INE refere que a 3 de Junho, por cada dez mil habitantes, Portugal tinha 32,6 casos confirmados da doença - um aumento de 12% em relação ao dia 20 de Maio, quando foi publicada a última informação similar a esta pelo instituto. Acima daquela média havia 50 municípios, concentrados nas AML e AMP, mas também no Alentejo (Mora e Azambuja) e nos Açores, onde o município do Nordeste, tal como os restantes aqui referidos, tinha mais de 50 casos confirmados por dez mil habitantes. 

Apesar destes dados, o INE destaca que a concentração geográfica dos novos casos é cada vez maior e numa análise à evolução dos casos na AML e na AMP comparando com a média nacional, a imagem não podia ser mais clara: depois de um período inicial, desde Março e até aos primeiros dias de Maio, em que o Norte apresentava casos muito acima da média nacional, a situação inverteu-se desde então, com esta região a manter-se consistentemente abaixo dessa média, enquanto a AML não parou de se afastar dela, apresentando um número de casos bem superior.

Consequências socio-económicas

As consequências socio-económicas da pandemia também são analisadas pelo INE que indica que em 74 municípios do país, o mês de Abril registou um número de desempregados inscritos nos centros de emprego mais de duas vezes superior ao mesmo período do ano passado. É o caso do Algarve, onde se registaram 20,8 novos inscritos por mil habitantes, enquanto a média nacional foi de 10,2. Se olharmos para as inscrições de novos desempregados por mil habitantes em idade activa, em comparação com o mesmo mês do ano anterior, esta região do país destaca-se ainda mais, tendo quase quadruplicado, refere o INE.

Os problemas ao nível do emprego são também bem visíveis ao nível das colocações de emprego de candidatos apresentados pelos centros de emprego. Em Abril de 2020, foram efectuadas 0,4 colocações destes candidatos por mil habitantes em idade activa - menos de metade do que acontecera no mês anterior, em que o valor era 0,9. Nas regiões do Algarve a variação deste indicador, comparando com o ano anterior, é de -96%.

Fechados em casa e com muitas pessoas a enfrentarem quebras de rendimento, os portugueses também compraram menos e recorreram a menos levantamento nas caixas automáticas, contabiliza o INE. Em Abril, o valor de levantamento de dinheiro nesses terminais foi de 134 euros por habitante, o que representa uma quebra de 39% face ao mesmo mês do ano passado e de 34% quando comparado com Março deste ano. Na AML a quebra de levantamentos em Abril, quando comparada com o mês anterior, chegou mesmo aos 45%, bem acima da média nacional, com a Madeira e o Algarve a apresentarem também quebras de 41% nos levantamentos.

Também as compras foram afectadas, com Abril deste ano a registar uma diminuição de 36%, em comparação com o mesmo período do ano passado. De novo, a AML (com menos 43%) e o Algarve (com menos 40%) aparecem como as regiões do país onde essa quebra foi mais acentuada.

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