“Transformar o luto em luta”: jovem assassinada homenageada junto da universidade

Beatriz Lebre foi morta a 22 de Maio, alegadamente por um colega de turma, que confessou o crime. Ambos frequentavam o mestrado de Psicologia Social das Organizações, no Iscte.

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“Que nós, as que podemos, usemos a nossa voz, e não nos calemos”, foi uma das frases usadas Hannah Busing/Unsplash

Dezenas de pessoas homenagearam, na quinta-feira, em Lisboa, a jovem Beatriz Lebre, que terá sido morta por um colega da universidade, e todas as mulheres vítimas de violência, porque é preciso “transformar o luto em luta”.

A acção foi organizada pelo colectivo feminista Por Todas Nós e serviu também para “retornar à rua”, porque com o recolhimento domiciliário imposto devido à doença covid-19 muitos temas “foram quase esquecidos”, explica Patrícia Vassallo, fundadora do movimento.

“É importante voltar à rua, voltar à luta, adaptando-nos à situação”, defende a responsável, acrescentando que são os números de violência contra as mulheres que o obrigam. “Temos de trabalhar muito mais este problema”, defende. E, quando questionada sobre o facto de a violência contra as mulheres não parecer diminuir, considerou que é também verdade que hoje há mais informação e que as vítimas já não ficam caladas, como no passado.

Beatriz Lebre, 22 anos (faria 23 no próximo domingo), foi morta a 22 de Maio, tendo o seu corpo sido recuperado apenas sete dias depois. Um colega de turma, Rúben Couto, de 25 anos, confessou o crime, tendo-lhe sido aplicada a medida de coacção de prisão preventiva.

O movimento Por Todas Nós defende a tese de que Rúben Couto estava obcecado pela jovem e que não terá aceitado “um ‘não’ como resposta”. Em 2019, foram assassinadas 28 mulheres em contexto de violência doméstica (27 adultas e uma criança), tendo sido registados ainda 27 tentativas de feminicídio em contexto familiar ou de intimidade.

“Nem mais uma”

“Isto é uma guerra contra as mulheres. Gritamos: ‘Nem mais uma!’”, exige o movimento. “Nem mais uma” foi, aliás, uma das frases que, ao longo da tarde de quinta-feira, foram coladas no muro exterior da universidade, a par de outras como “O machismo mata” ou “Que nós, as que podemos, usemos a nossa voz, e não nos calemos”.

A ideia, também anunciada nas redes sociais, era deixar no local mensagens de homenagem às vítimas e também pelo fim da violência de género. Patrícia Vassallo disse que as mensagens ficarão no local, onde outras pessoas, nos próximos dias, podem colocar mais mensagens ou outros objectos de homenagem (como flores ou velas, por exemplo).

Na quinta-feira, foram apenas mensagens e dois pequenos girassóis, colados na parede, ao lado de uma fotografia da jovem Beatriz Lebre. E também algumas pessoas, duas dezenas, vigiadas de perto pela polícia, que ainda antes de começar a iniciativa já perguntava quantas pessoas se iam juntar.

Patrícia Vassallo disse que, com todos os cuidados, é preciso “voltar à rua” e “fugir do activismo das redes sociais”. Os participantes usaram máscaras e havia uma mesa com álcool e gel para que quem escrevia uma frase nas cartolinas disponibilizadas pudesse desinfectar as mãos posteriormente.

“Alertar, Apoiar, Educar, Denunciar” encheu uma dessas cartolinas, e outra, com uma longa mensagem, terminava com um lamento: “Desculpa não te termos conseguido salvar, Beatriz.”

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