Tecer o futuro a fio de pesca: a vida nova de Sumba, na Indonésia

As alterações climáticas e a seca extrema levaram os habitantes da ilha de Sumba, na Indonésia, a alterarem a sua forma de vida. Agricultores, pais, filhos: todos se adaptam agora a esta nova realidade em que a pesca e a tecelagem são o ganha-pão das famílias.

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Willy Kurniawan/Reuters
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Na ilha de Sumba, na Indonésia, os padrões representados nos tecidos tradicionais incluem animais, nomeadamente a raça de cavalos famosa da área, os cavalos Sandalwood. Mas, na vila de Hamba Praing, no Leste de Sumba, dezenas de cavalos e animais de gado morreram nos últimos anos devido a uma seca extrema que atacou as ervas — a base da alimentação destes animais —, deixando para trás ossos e carcaças espalhados pela paisagem esburacada.

O Leste de Sumba, a cerca de 2000 quilómetros do Leste de Jacarta, contabilizou, em 2019, 249 dias seguidos sem chuva, o que levou alguns especialistas a culpar as alterações climáticas pelos padrões de seca que forçam as populações a adaptarem-se para sobreviver.

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“Hoje em dia, já não fazemos plantações”, diz o agricultor local Thomas Tay Ranjawali, de 52 anos, referindo-se às plantações de amendoins e milho típicas dos habitantes da vila.

Ao mesmo tempo que tenta manter os animais vivos, este pai de seis filhos está agora a aprender a tecer, uma prática normalmente reservada para as mulheres, que assim ganham dinheiro extra para se alimentarem,

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Sumba localiza-se na terceira província mais pobre do Leste do Nusa Tenggara, que é também a região mais seca do arquipélago.

A agência de meteorologia da Indonésia afirmou que as condições atmosféricas estão a tornar-se cada vez mais extremas devido ao fenómeno climático El Niño no Oceano Índico, neste que pode vir a ser o século com o tempo mais seco de que há registo no Sudeste Asiático e na Austrália. 

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“O aumento das temperaturas na Indonésia é a prova do aquecimento global”, diz a agência oficial Supari, que destaca Sumba como uma das áreas mais vulneráveis.

Com a seca a devastar a vila, Ranjawali e a mulher, Maria Babang Noti, estão a substituir a compra de sementes por mais fio, usado do decurso do complicado processo de tecelagem do tecido Sumba Ikat. Outro agricultor, Ndelu Ndaha, de 49 anos, passa agora mais tempo a tentar pescar.

Dezoito dos cavalos de Ndelu Ndaha e sete vacas morreram recentemente e, de forma a manter os restantes animais vivos, a relva teve de ser trazida de outras cidades.

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“Os cavalos adoecem facilmente. Não têm nada no estômago”, disse Ndaha. “Todos os anos há mortes.”