Regresso aos restaurantes: o Porto em três sabores

Fomos revisitar o clássico Ernesto, conhecer o basco Sagardi e o italiano Grigio. Quinze dias depois da reabertura geral da restauração, nota-se que a cidade ainda está a adaptar-se a ir comer fora.

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Reinaldo Pereira, proprietário do restaurante O Ernesto, um dos clássicos da cidade do Porto Nelson Garrido

Segunda-feira, 12h30. Na Rua da Picaria, no Porto, o restaurante O Ernesto, um clássico da cidade que leva já 52 anos de portas abertas, ainda regista pouco movimento. Logo à entrada do estreito corredor que conduz às salas de refeições (uma em baixo, outra em cima e ainda uma pequena esplanada) está o proprietário, Reinaldo Pereira, a cumprimentar quem chega. Como é que estão as coisas?, perguntamos. “Vão andando, vão andando.”

Marcámos mesa para dez e instalamo-nos na sala de cima. Somos, para já, os primeiros clientes – mas ainda hão-de chegar outros fregueses habituais, como é o caso do presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, assíduo frequentador do Ernesto. Fátima, a funcionária despachada que conhecemos bem, aproxima-se e, por trás da máscara que lhe cobre o sorriso, debita a ementa em voz alta.

A marmotinha de rabo na boca tem muita saída, mas optamos pelos filetes de pescada com arroz de feijão. Até eles chegarem, temos o queijo, o salpicão, as azeitonas, os bolinhos de bacalhau e uma sopa de legumes. Quando chega o prato principal, já estamos bem nutridos, mas há sempre espaço para os bons filetes de pescada do Ernesto. No fim disto tudo, a obrigatória salada de fruta, que é um ícone da casa.

Nesta segunda-feira, primeiro dia de Junho e arranque de uma nova fase de desconfinamento, sentimos a cidade já com muito mais vida. O dia está de feição, as esplanadas muito bem compostas, mas grande parte dos restaurantes desta zona da Baixa do Porto ainda estão à espera do regresso dos clientes. Alguns, como o Elemento, optaram por adiar a reabertura: o restaurante do chef Ricardo Dias Ferreira, que usa apenas lenha na confecção de todos os pratos, voltará a 17 de Junho. “Ainda com mais chama”, prometem.

Para o jantar desta segunda-feira escolhemos o Grigio, na Rua do Almada. É um restaurante italiano com forno a lenha e nesta noite amena uma pizza vem mesmo a calhar. Marcámos mesa para as 20h e somos os primeiros a chegar. Escolhemos a esplanada, pedimos o couvert (tostas, azeitonas, manteiga e tomate picante), uma pizza Capriciosa e ravioli da horta e daqui a nada chegam mais dois clientes. Um casal, septuagenário, com sotaque americano. Até às 22h30 não virá mais ninguém. É a nossa primeira vez no Grigio, mas quem connosco partilha a mesa garante que quando lá foi estava cheio.

Três dias antes, na sexta-feira ao almoço, fizéramos a nossa estreia no Sagardi Cozinheiros Bascos, na Rua de São João, na Ribeira. Este restaurante dos irmãos Iñaki e Mikel López de Vinãspre, que já operavam em Gaia, em parceria com a Symington, no Vinum, abriu em Setembro do ano passado. Quando o Porto já estava habituado aos sabores que lá se cozinham com tempo e fogo lento, a pandemia caiu-nos em cima. E agora, quando se entra naquela sala revestida a madeira e pedra, custa ver que vai ser preciso começar quase do zero.

O Sagardi Cozinheiros Bascos reabriu a 18 de Maio, quando os restaurantes tiveram permissão para voltar a operar, cumprindo todas as normas decretadas pela Direcção-Geral de Saúde. À entrada, pedem-nos para usarmos máscara e disponibilizam desinfectante para as mãos. A lotação foi reduzida para 50% e o que mais se nota na alteração ao funcionamento prende-se com a barra de pintxos, que era um dos pontos de atracção da casa. Os petiscos alinhavam-se na vitrina, os clientes serviam-se directamente e, no final, a contabilidade era feita pela contagem de palitos.

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As carnes velhas são uma das imagens de marca do Sagardi Cozinheiros Bascos Anna Costa

A barra ainda cá está, mas quase despida. Os pintxos são agora servidos na mesa, dado que as normas de segurança desaconselham a anterior prática. Depois das boas-vindas do chef, uma txistorra frita de Orio, e consultada a carta que é agora disponibilizada através de um código QR, pedimos dois pintxos frios (anchova, guindilla em vinagre e azeitona; e delícias do mar em salada de ovo e maionese) e um quente, a inevitável croqueta de presunto ibérico. Seguem-se uns espargos de temporada, na parrilla, pelados à mão, e para prato principal pedimos um excelente txuleton de vaca velha, um emblema do Sagardi, que acompanhamos com alface com ceboleto. No copo, temos um vinho basco, Talai Berri Txakolina.

Enquanto aqui estivemos, vimos apenas mais uma cliente, sentada, como nós, numa das mesas viradas à rua. Quer-nos parecer que o Porto – algum Porto, pelo menos –, ainda está a habituar-se à ideia de que é seguro ir comer fora.

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