Alemanha aprova pacote de 130 mil milhões para estimular o consumo

Berlim quer pôr mais dinheiro no bolso das famílias para animar a economia e travar o desemprego. Descidas do IVA , “cheque-criança” e apoio à compra de carros eléctricos são algumas das medidas.

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Merkel diz que a situação alemã "é frágil" e que é preciso salvaguardar empregos LUSA/MIKA SCHMIDT / POOL

A coligação liderada por Angela Merkel aprovou mais um pacote de ajudas à economia, com várias medidas direccionadas para aumentar o rendimento disponível das famílias e estimular o consumo, que incluem a entrega de um cheque de 300 euros a cada criança e reduções no IVA. O valor total do programa de estímulo económico ascende a 130 mil milhões de euros, quase dois terços do Produto Interno Bruto (PIB) português em 2019.

O pacote acordado pela CDU (de Merkel) e os sociais-democratas do SPD ao fim de praticamente dois dias de negociações fica 30% acima do que chegou a estar previsto, avançou a Bloomberg esta quinta-feira. Com a Alemanha a caminho da pior recessão do pós-guerra – esperando-se uma contracção do PIB de 6,3% este ano – e o país a tentar retomar a normalidade depois do confinamento para combater a pandemia de covid-19, a prioridade é pôr a economia a mexer e combater o desemprego, que atingiu em Maio o nível mais elevado desde 2015.

O facto de existirem neste momento sete milhões de trabalhadores em layoff  “demonstra o quão frágil é a situação, e como devemos agora ser bem-sucedidos para estimular a economia e salvaguardar empregos”, disse a chanceler, citada pelo Financial Times (FT).

Depois de ter avançado em Março com um gigantesco pacote de estímulos para apoiar a tesouraria das empresas e garantir-lhes acesso a financiamento (mobilizando cerca de 1300 milhões de euros), o foco de Berlim vira-se agora para o consumo das famílias, esperando que se crie uma dinâmica que alimente a recuperação económica.

A partir de 1 de Julho e até ao final de 2020, a taxa normal de IVA descerá de 19% para 16% e a taxa reduzida cairá de 7% para 5%, estimando-se que a medida custe cerca de 20 mil milhões de euros.

O FT refere ainda que as medidas para libertar rendimentos incluem uma redução nos preços da electricidade, conseguida através de um corte na taxa destinada a subsidiar a energia solar e eólica.

Segundo o jornal, outras medidas previstas são apoios aos municípios mais penalizados pelos efeitos da pandemia e a hotéis, restaurantes e discotecas. Também haverá uma duplicação dos incentivos à compra de carros eléctricos. A Bloomberg refere ainda a existência de verbas que serão alocadas à construção das novas redes 5G e à melhoria das redes ferroviárias.

Uma das questões mais controversas parece ser o facto de o pacote de medidas deixar de fora ajudas directas à compra de veículos convencionais, um apoio pedido pela fortemente abalada indústria automóvel alemã e que tinha sido implementado em 2008, durante a crise financeira.

Na quarta-feira à noite, Merkel disse à imprensa alemã que o conjunto de medidas tem uma visão de longo prazo. “Não podíamos avançar com um pacote de estímulos no sentido tradicional. Tinha de ser um pacote [de ajudas] que contivesse uma visão de futuro”, justificou.

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