A TAP e as virtudes da regionalização

O país fica a dever à administração da TAP uma demonstração real, prática e objetiva de quão bom poderá ser para o país a existência de regiões político-administrativas.

O país fica a dever à administração da TAP – e ao seu erro inicial de querer concentrar em Lisboa todo o esforço para relançar a atividade da companhia depois da primeira vaga da covid-19 – uma demonstração real, prática e objetiva de quão bom poderá ser para o país a existência de regiões político-administrativas com órgãos eleitos pelo voto direto dos cidadãos.

Tenhamos presente o que esteve em causa: se a TAP não utilizasse de forma racional todos os recursos aeroportuários disponíveis no território isso prejudicaria o país inteiro (a começar por Lisboa); essa opção errada foi revertida devido a uma reação unânime de agentes políticos e económicos da Região Norte; esse recuo vai beneficiar o país como um todo e até a própria TAP, que assim irá gerir os recursos disponíveis de uma forma mais eficiente.

Ou seja, a defesa do interesse regional, não só não prejudicou, como manifestamente irá beneficiar o interesse nacional, a boa gestão dos recursos, a promoção do desenvolvimento económico do país e até os negócios da própria empresa. Esta é a principal razão pela qual os regionalistas defendem a regionalização: a autonomia político-administrativa regional defende e promove o bem comum dos países em que está implantada!

Este episódio da TAP tem de ser entendido e refletido pelo sistema político nacional, a começar pelo meu próprio partido, o PS. A atual liderança da Federação Distrital do PS Porto não compreendeu a importância do que estava em causa, e, como não compreendeu, nem fez nada em nome próprio, nem procurou agregar as federações suas congéneres dos restantes distritos da Região Norte – Bragança, Vila Real, Viana do Castelo e Braga – para a defesa concertada dos interesses regional e nacional.

A pandemia da covid-19 que está na origem deste episódio da TAP obriga a que em Portugal – como, de resto, em todo o mundo – se mude a forma tradicional de fazer política. Não é só na economia, na atividade empresarial ou no ensino que a crise do novo coronavírus está a obrigar à aquisição rápida de novas competências e ao seu exercício num paradigma novo: também na política são necessárias novas leituras, novos entendimentos e novas abordagens dos problemas. A pandemia covid-19 e a crise social e económica por ela gerada, tal como as respostas que as sociedades e os estados estão a preparar para as combater, correspondem a mudanças estruturais profundas que estão a redesenhar o mundo tal como o conhecíamos.

É da mais elementar justiça reconhecer que o primeiro-ministro António Costa foi dos primeiros líderes europeus (e mundiais) a entendê-lo e a agir em conformidade – razão pela qual Portugal é, reconhecidamente, um dos países que melhor está a lidar com esta crise em todos os planos, desde logo o sanitário. Infelizmente – e mau grado o bom exemplo do seu secretário-geral – dirigentes do PS como Manuel Pizarro são indiferentes, diria mesmo impermeáveis, quer aos desafios que este novo tempo coloca ao país e ao partido, quer à urgência de lhes dar resposta adequada.

Perante a mudança profunda, irresistível, imparável, a que assistimos em direto e na qual estamos envolvidos, é preciso que Portugal, as suas regiões e as suas comunidades encontrem formas novas de intervir na realidade e novas lideranças para protagonizar essa intervenção. Como tenho defendido na minha candidatura à presidência da Federação do PS Porto, são precisas novas competência políticas e novas caras para combater as desigualdades territoriais e socioeconómicas persistentes que a crise da covid-19 veio de novo mostrar e acentuar.

O episódio da TAP, tal como a forma regionalista e virtuosa como foi resolvido, é um indício auspicioso de que é possível fazer melhor!

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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