Reativação das economias em Portugal e PALOP

A questão das dívidas aparece como traço comum às economias de Portugal e dos PALOP, dívidas que devem ser apagadas porque prolongaram-se via taxas de juros macro demolidoras.

Não há relação automática entre os contextos palopianos e português na recuperação pós-pandemia, mas em economia bastam alguns elementos de conexão para se prestar atenção e tirar partido. Neste caso as conexões são muitas.

Mesmo que se trate de coincidência, é sinal de conexão ter sido indicado um luso-angolano como conselheiro do governo português para essa recuperação, até porque António Costa e Silva está longe de ser caso único. Portugal tem no seu primeiro escalão de governo vários exemplos, reveladores de avanço cosmopolita, habitual resultado do desmanchar de impérios, desde Roma Antiga às atuais França, Reino Unido, Rússia e vários países africanos. Por exemplo, nos PALOP a todos os níveis sociais, incluindo membros de governos.

Significativo é o rancor comum dos obscurantistas – também designados por “identitários” - africanos e europeus contra este segmento, cuja existência revela um relacionamento social que, inevitavelmente, gera consequências económicas. Nas trocas comerciais, no turismo e ligações aéreas, nos investimentos, etc.

A língua é um instrumento capital em economia ao permitir comunicação e, nos PALOP quanto a línguas internacionais, o empresariado quase só fala português. É nesta língua que prefere fazer contratos. Portugal e Brasil estão entre os principais parceiros comerciais dos Cinco por essa razão principal.

Por outro lado, são mais de mil o número de empresas portuguesas que, muito ou pouco, exportam para África e dependem disso para se viabilizarem.

Longos anos com estes dados de contacto devem, em princípio, ter criado laços de confiança, elemento chave em economia. Porém, seria importante avaliar até que ponto vai essa confiança, se ela resiste aos soluços da política – tem havido muitos e mais surgirão – ou se depende deles. 

A língua permite ainda intercâmbio científico mais rápido. Aqui entramos numa área estratégica. Todas as economias elaboram programas de transição digital e a negligência com a investigação cientifica é uma das causas de ignorância perante a atual pandemia, além de ter deixado a visualização económica ao sabor das ondas ideológicas. Até nas manipulações estatísticas.

A covid-19 tem tido a particularidade de encolher todas as economias, quer nos países com mais casos ou com menos casos. Na dúvida, todos impuseram quarentenas, confinamentos e restrições fronteiriças, quer dizer, todos tiveram níveis de alta paralisação. Para recuperar, o endividamento é inevitável, sendo notória a mudança de posição na matéria, mesmo de escolas ortodoxas ou interesses que vivem dos juros muitas vezes típicos de agiotagem.

Hoje, em todo o mundo, debatem-se níveis de empréstimos, amortizações, moratórias e até solidariedade financeira, expressão que no começo deste ano ainda arrancava sorrisos irónicos. Sendo a criação de oportunidades o eixo central do crescimento económico, a busca de quadro estimulante constitui o bloco de ferramentas para tal criação e ampliação.

Por exemplo, a redução das dependências, seja de um produto seja de um setor ou ramo de atividade, é matéria presente tanto nos PALOP como em Portugal. As grandes vantagens de se pertencer a blocos económicos, possuir moedas convertíveis e descomplicar as legislações, estão na mesma e comum ordem de ideias. 

A questão das dívidas aparece como traço comum às economias de Portugal e dos PALOP, todas elas precisando de tempo, esse grande multiplicador de meios. Dívidas que devem ser apagadas porque prolongaram-se via taxas de juros macro demolidoras; dívidas exigindo moratórias consideráveis e dívidas a serem transformadas em investimentos produtivos ou objeto da solidariedade financeira inerente a mercados integrados.

Nos investimentos podem referir-se dois detalhes de orientação.

Os PALOP estão perante o imperativo, até aqui esquecido, de aumentar a poupança nacional e orientá-la para a diversificação, onde o agro-alimentar assume valor estratégico em três sentidos: reduzir a pobreza, ampliar o poder de compra interno e equilibrar as balanças comerciais. Os investimentos estrangeiros, portanto também portugueses, devem considerar esse imperativo superando o investimento extrativista ou em serviços de lucro imediato.

Enfim, um problema que ganhou perfis políticos-judiciais: os investimentos angolanos em Portugal. O próximo passo será saber como separar o delinquente do legitimo e se é possível este servir uma nova orientação útil para ambos os lados.

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