Duterte recua e já não vai rasgar acordo militar com os EUA

O Presidente filipino tinha anunciado em Fevereiro o fim do pacto militar por Washington ter recusado emitir um visto ao arquitecto da política de combate às drogas acusada de violar direitos humanos.

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O Presidente Rodrigo Duterte já ameaçou muitas vezes cancelar o acordo militar com Washington Lean Daval Jr/Reuters

O Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, voltou atrás e suspendeu por seis meses a decisão de acabar com o acordo de cooperação militar com os Estados Unidos. O anúncio foi feito pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Teodoro Locsin, argumentando com recentes desenvolvimentos na Ásia-Pacífico, sem dar mais pormenores. A antiga colónia americana é um aliado essencial dos EUA na região. 

“Enviei esta nota diplomática ao embaixador americano. Foi bem recebida por Washington e é tudo”, escreveu no Twitter Locsin. “O cancelamento do Acordo de Forças Visitantes foi suspenso por indicação do Presidente”. A suspendeu manter-se-á por seis meses e poderá ser renovada mais duas vezes, num total de 18 meses, dando margem de manobra ao Governo. 

A nota enviada à embaixada americana é omissa sobre as razões para este recuo súbito, uma vez que o Presidente fez do tema uma questão de honra nacional. O documento limita-se a dizer que a suspensão foi decidida “à luz de desenvolvimentos políticos e outros na região”. 

“A nossa longa aliança tem beneficiado os dois países e estamos desejosos de continuar com uma estreita cooperação de segurança e defesa com as Filipinas”, reagiu a embaixada americana no país, citada pela Reuters. 

Duterte anunciou em Fevereiro que o Governo filipino ia cancelar o pacto militar por os Estados Unidos não terem emitido um visto que permitisse a entrada do senador Ronald dela Rosa, antigo chefe da Polícia Nacional e arquitecto da política de combate às drogas acusada de violar direitos humanos. O Presidente avisou Washington para alterar a situação, sem que tenha acontecido, e avançou mesmo com o cancelamento do acordo. Foi a primeira vez que essa ameaça resultou em acto. 

Mas, diz a Reuters, a verdadeira razão por detrás do cancelamento de Duterte foi o desejo de diversificar as relações diplomáticas e económicas do seu Governo, nomeadamente com a China. O investimento chinês tem crescido de ano para ano e empresas chinesas têm ganho vários concursos, inclusive para a reconstrução de Marawi, cidade que esteve nas mãos de jihadistas cinco meses em 2017, e assinado acordos com o executivo para exploração de recursos fósseis em águas filipinas. 

Os críticos do executivo acusaram Duterte de ter enfraquecido a capacidade das forças armadas no combate ao terrorismo jihadista, uma das principais ameaças à segurança nacional, na resposta a desastres naturais e a ameaças marítimas, diz a agência britânica. É que os treinos entre os militares americanos e filipinos são essenciais para a formação dos soldados filipinos numa região que junta cada vez mais tensões geopolíticas. 

Washington não tem visto com bons olhos esta aproximação, porque a antiga colónia é um dos seus principais aliados na região da Ásia-Pacífico, nomeadamente no Mar do Sul da China. O acordo militar, assinado em 1947, é um pilar da estratégia de defesa americana na região e os exercícios militares têm sido usados para enviar sinais à China, o que tem preocupado uma parte dos membros do Governo de Duterte. 

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