Lagoa de Santo André vai, finalmente, abrir ao mar

Após dois adiamentos, o sistema lagunar da costa alentejana vai receber as águas do mar garantindo assim o meio de sustento dos pescadores envolvidos, sobretudo, na pesca da enguia.

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JH JOAO HENRIQUES

À terceira tentativa, a lagoa de Santo André vai abrir ao mar, um acontecimento marcado para esta quinta-feira. A data inicial, dia 18 de Março, não foi considerada, alegando-se as restrições impostas pelo estado de emergência que foi decretado para conter os focos de pandemia, e a operação foi adiada para 5 de Abril mas o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) não autorizou a abertura.

No parecer negativo que então elaborou, o ICNF não permitiu a operação a cargo da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), evocando que a abertura da lagoa neste período já seria muito tarde porque “iria afectar a nidificação de uma espécie de aves”. Por outro lado, destacou o ICNF, “os malefícios provocados pela abertura da lagoa a essa espécie seriam superiores aos benefícios que a operação traria à lagoa de Santo André todos os anos”.

O presidente da Câmara de Santiago do Cacém, Álvaro Beijinha, concelho onde se localiza a lagoa de S. André, sublinhou ao PÚBLICO as consequências negativas que a decisão do ICNF poderia vir a ter “na vida dos pescadores, assim como em toda a economia local, especialmente na restauração”.

O autarca não concordou com o parecer negativo do ICNF e intercedeu junto do secretário de Estado da Conservação da Natureza, das Florestas e do Ordenamento do Território, João Catarino, alertando-o para as consequências resultantes da não-abertura da lagoa, que assim ficaria três anos consecutivos sem renovação da sua reserva de água. A operação de abertura em 2019 durou apenas algumas horas. O nível da lagoa estava muito baixo por não ter recebido um volume suficiente de água doce, dada a pouca precipitação atmosférica que se registou no território abrangido pela bacia hidrográfica que serve o sistema lagunar.

Álvaro Beijinha chamou a atenção para a necessidade da APA ouvir os pescadores, dada a sua experiência, e por serem eles a sofrer as consequências da não renovação das águas que se traduziria num desastre para a pesca, sobretudo no impacto na captura da enguia, a “principal iguaria” da restauração local. E referiu que o Plano de Ordenamento da lagoa de S. André impõe a sua abertura ao mar uma vez por ano e no mês de Março.

Este ano corria-se o risco de ter de se esperar mais um ano. Os pescadores propuseram o dia 23 de Maio, chamando a atenção para a redução do nível de armazenamento no sistema lagunar, que foi acelerado com aumento das horas de sol e de calor que, nas últimas semanas, vieram contribuir para aumentar o volume de perdas por evapotranspiração das águas. Mas por razões associadas às marés, a APA, através da sua Administração da Região Hidrográfica do Alentejo (ARH do Alentejo), decidiu que a intervenção deveria ocorrer nesta quinta-feira, dia 4 de Junho.  

Através de uma nota divulgada nesta quarta-feira, aquele organismo considera necessário que “sejam rigorosamente aplicadas à operação de abertura da referida lagoa ao mar, as recomendações da Direcção-Geral da Saúde, no que se refere à contenção de contactos sociais, evitando a concentração de pessoas”. Assim, “todos os que sejam estranhos a estas operações, devem assumir um comportamento responsável, evitando criar situações desnecessárias de risco para a saúde pública” perante a ameaça da pandemia pela Covid-19.  

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