Os dois novos “inquilinos” da Cidade do Futebol

O regresso do futebol não é, para todas as equipas, um regresso a casa e há duas, entre as 18 da I Liga, que tiveram de mudar de estádio. Uma delas, o Santa Clara, fê-lo mesmo de malas e bagagens.

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Cidade do Futebol será a casa de Belenenses SAD e Santa Clara Miguel Manso

Há duas equipas que vão mudar de estádio no regresso da I Liga, jogando as últimas dez jornadas na Cidade do Futebol, em Oeiras. O Santa Clara vai fazer uma mudança tremenda, jogando a cerca de 1400 quilómetros do seu estádio, enquanto o Belenenses SAD se limitou a mudar os pertences para alguns metros ao lado, entre dois estádios situados na zona do Jamor.

Há, no entanto, dois contextos distintos. No caso do Santa Clara, trata-se de evitar os perigos sanitários das viagens das equipas de e para os Açores, caso o clube mantivesse a ilha de São Miguel como casa. Esta solução implica, porém, ter os jogadores longe das famílias durante várias semanas, viver num hotel e jogar num campo que, até por ter condições de excelência, reduz, em certa medida, o impacto de os visitantes jogarem no estádio de São Miguel. E tudo isto significa, também, alguns encargos financeiros adicionais para o clube – que pediu apoio à Federação Portuguesa de Futebol e à Liga.

O caso do Belenenses SAD é mais confortável. A mudança, além de logisticamente mais fácil, não significa alterações na vida pessoal dos jogadores, não acarreta diferenças nas rotinas de treino e tão pouco custos adicionais no alojamento.

Vantagem?

A título de curiosidade, nota para o facto de, desde que voltou à I Liga (esteve 15 temporadas no segundo escalão), o Santa Clara ser uma equipa mais forte fora de casa do que no próprio estádio. Em 2018/19, somou mais pontos fora dos Açores, algo que tem repetido nesta temporada: leva 14 pontos em casa e 16 fora.

Estes dados entroncam no perfil de uma equipa confortável quando cede algum ascendente nas partidas e explora as transições: segundo dados da Proscout, o Santa Clara é a sexta equipa do campeonato que menos posse de bola tem nos seus jogos, é a equipa que mais vezes explora os passes longos, é a segunda equipa que menos golos marca em ataque posicional e é também a segunda que menos passes faz para construir as jogadas de golo.

Jogar longe dos Açores pode ser um suplício pessoal e logístico, mas, a nível de futebol, não parece ser particularmente preocupante para os açorianos.

DGS aceitou grande parte dos estádios

Em contraciclo com Belenenses SAD e Santa Clara estão… todos os outros. A possibilidade de os clubes organizarem os seus jogos não foi, ainda assim, uma solução pacífica desde início.

Foi posto em discussão, primeiro, o cenário de organizar todos os jogos num número reduzido de estádios e até mesmo numa só região do país – falou-se do Algarve, pela menor incidência da pandemia.

Alguns clubes consideraram, porém, ter condições para organizarem os seus jogos, pelo que a Direcção-Geral da Saúde (DGS) foi chamada a vistoriar os recintos, validando, ou não, a utilização para o regresso do futebol.

Numa primeira fase, foram aceites nove estádios (Estádio da Luz, Estádio do Dragão, Estádio José Alvalade, Estádio D. Afonso Henriques, Estádio João Cardoso, Estádio do Marítimo, Estádio Municipal de Braga, Portimão Estádio e a Cidade do Futebol).

Aos poucos, fazendo as correcções logísticas propostas pela DGS, os clubes foram pedindo à entidade de saúde que fizesse novas vistorias – e aceitasse mais estádios, por consequência. O caso mais curioso foi mesmo o do Famalicão, que começou por anunciar que ia jogar em Barcelos, mas que acabou por ter o seu próprio estádio validado pela DGS, voltando atrás na decisão.

Assim, das 18 equipas da I Liga, apenas Belenenses e Santa Clara vão mudar de estádio – e nem pediram à DGS que validasse, respectivamente, o Estádio do Jamor e o Estádio de São Miguel.

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