Virgil Abloh condena os saques e as redes sociais condenam-o pela falta de solidariedade com os manifestantes

O designer das marcas Off-White e Louis Vuitton tornou-se um alvo da raiva e frustração dos manifestantes pela morte de George Floyd.

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Em Janeiro, o designer apresentou a colecção para homem da Louis Vuitton Reuters/Charles Platiau

Depois da morte de George Floyd às mãos da polícia em Mineápolis, há uma semana, e de muitos protestos se tornarem violentos, com fogo posto e saques a lojas, o designer Virgil Abloh, da maison Louis Vuitton, veio a público condenar os saques. As suas declarações incendiaram as redes sociais e o norte-americano de origem ganesa acabou por se retractar mas nem por isso as críticas se tornaram mais brandas, sobretudo quando se soube que tinha contribuído com 50 dólares (45 euros) para a luta contra a discriminação racial nos EUA.

Abloh começou por publicar nas histórias, da sua rede social Instagram, textos onde condenava os saqueadores por destruírem e roubarem lojas da sua marca, a Off-White, e de empresas de amigos com os quais colabora, assim como uma galeria com a qual tinha ligações. “Eu disse que o streetwear está morto”, escreveu num post, ao lado de um vídeo de uma loja vintage, em Los Angeles, depois de esta ter sido saqueada. Noutra fotografia, onde se viam obras de arte destruídas no meio de vidros partidos, em Chicago, escreveu: “As nossas comunidades, as nossas lojas... Esta loja foi construída com sangue, suor e lágrimas.”

Sobre essa galeria, Abloh acrescentou que há 11 anos ele e os proprietários comprometeram-se em “fazer algo para a comunidade local. “Hoje essa mesma comunidade roubou-nos. Se isso cura a vossa dor...”, escreveu. Numa imagem partilhada por um amigo, dono de uma outra loja que foi destruída e saqueada, o designer condenou quem o fez, cita o The New York Times.

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Se algumas pessoas aplaudiram a mensagem de Abloh, as várias publicações que foi escrevendo deram também origem a um debate inflamado, questionando a contribuição do artista para a comunidade negra, alguns acusando-o de mercantilizar a luta pelos direitos civis dos afro-americanos.

As tensões aumentaram ainda mais no domingo, quando Abloh publicou uma captura de ecrã para mostrar que tinha feito uma doação de 50 dólares (45 euros) a um colectivo de arte de Miami para ajudar nas despesas legais dos manifestantes presos. No Twitter, as mensagens de indignação não se fizeram esperar, questionando por que dava tão pouco um homem que tem tanto. 

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O designer, que tem a sua marca, a Off White, desde 2012, e foi colaborador de Kanye West, conhecido rapper que apoiou a eleição de Donald Trump, ​sentiu a necessidade de se defender das críticas que lhe foram feitas. Na sua conta de Instagram, na segunda-feira, explica que é negro e que também ele tem medo quando um agente o chama na rua, também ele se sente impotente — “os meus 39 anos de vida podem ser reduzidos a um segundo se alguém chamar a polícia [dizendo]: “Um alto homem negro estava...’”, escreve —, que sabe que o racismo tem de acabar porque está “literalmente a matar-nos”.

Abloh sente necessidade de pedir desculpa pelos comentários que susceptibilizaram tantos seguidores, lamentando que tenha parecido que a sua preocupação com as lojas era maior do que a com os direitos humanos. Sobre os 50 dólares que doou, o designer explica que aquele era o valor pedido naquele caso concreto e avança que já contribuiu com mais de 20.500 dólares (cerca de 18.400 euros) para várias causas relacionadas com o movimento anti-racismo. “Vou continuar a doar mais e a incentivar os meus pares a contribuírem”, escreve, acrescentando que não quer publicitar os valores que doa como se as grandes doações fossem mais importantes do que as pequenas, nem para se auto glorificar.

Apesar das suas justificações, nesta terça-feira, quando aderiu ao movimento Blackout Tuesday, partilhando o quadrado negro na sua conta de Instagram, muitos seguidores limitaram-se a escrever “50 dólares”, nos comentários.

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