O Governo a empatar as exportações

O país precisa de histórias de sucesso. A lamentável história dos seguros de crédito está aí para nos fazer recear que este Governo, sendo sensível ao lado das perdas, tem pouca apetência para dar brilho ao lado dos ganhos.

Esta é uma história antiga: a de um governo com muito pouca sensibilidade para os problemas das empresas que fazem pela vida, mantêm a produção e apostam nos sempre difíceis mercados externos. As dificuldades das empresas testemunhadas pelo jornalista Victor Ferreira por causa da falta de um acordo entre seguradoras e Governo em torno dos seguros de crédito não é exactamente aquele tipo de problemas que faz bons títulos na imprensa, nem suscita declarações emocionadas da oposição. Mas é uma questão de enorme importância que deixa em aberto uma realidade preocupante: o Governo foi célere (e ainda bem) a proteger os empregos de empresas ameaçadas pela crise criando o layoff simplificado; não consegue, porém, ser despachado na garantia de seguros e resseguros que ampara a exportação e protege as boas empresas do risco excessivo.

Ora, se nesta crise se joga em grande medida o futuro da economia, é tão importante preservar o potencial produtivo com o layoff, como criar condições para as mais resilientes venderem os seus produtos com os seguros de crédito. No primeiro caso, é crucial manter as empresas a hibernar até que a crise dê sinais de alívio; no segundo, a garantia de seguros de crédito é indispensável para que as empresas produzam, mantenham os seus clientes no estrangeiro e preservem as quotas de exportação da economia portuguesa.

Custa por isso a perceber que razões de fundo tem o Ministério das Finanças para não conseguir negociar com as seguradoras mecanismos suficientemente sólidos e atractivos para que as empresas possam fazer negócios com riscos controlados. Sabemos que em tempos de grande volatilidade, como o actual, os riscos de incumprimento de quem compra são muito maiores. Percebemos por isso que os seguros de crédito tenham de ser mais volumosos e caros. Mas quanto custa a paragem das vendas das empresas em actividade?

Na semana em que o Governo aprova um programa de estabilização, pode ser que a pressão sobre o ministro da Economia seja suficiente para convencer o ministro das Finanças a alargar os seguros de crédito ao mercado nacional e ao resseguro. Não o fazer é erguer uma barreira ao mundo das empresas que conservam o seu músculo neste quadro geral de privação e incerteza. É quase como que travar o lado mais positivo da economia e deixar que nos atenhamos apenas à sua zona mais sombria.

O país precisa de histórias de sucesso. Infelizmente, o episódio dos seguros de crédito está aí para nos recordar que este Governo, sendo sensível ao lado das perdas, tem pouca apetência para dar brilho ao lado dos ganhos.

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