O arquivo do Diário de Notícias não existe

O arquivo do Diário de Notícias não existe desde, pelo menos, 1991, quando, na sequência da privatização, o jornal foi comprado pela empresa Lusomundo juntamente com o Jornal de Notícias e com outras marcas relevantes da história da imprensa portuguesa.

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Capas da edição impressa do DN, um jornal centenário DR

Há um erro de base na notícia intitulada “Sampaio e Eanes entre cidadãos que pedem classificação urgente do arquivo do Diário de Notícias”, publicada no passado dia 18 de maio: o arquivo do Diário de Notícias não existe desde, pelo menos, 1991, quando, na sequência da privatização, o jornal foi comprado pela empresa Lusomundo juntamente com o Jornal de Notícias e com outras marcas relevantes da história da imprensa portuguesa.

Para além do património próprio do DN e do JN, este arquivo inclui materiais de outras marcas do grupo cuja dimensão e relevância, em conjunto, tornam esse património ainda mais significativo e mais importante para a sociedade do que os arquivos isolados do DN e JN: o Jogo, Dinheiro Vivo, Notícias Magazine, Tal & Qual, 24horas, Grande Reportagem, Vida Rural, Notícias da Tarde, Mundo Desportivo são apenas algumas das marcas que as empresas proprietárias do DN e do JN publicam ou publicaram.

A juntar a isto temos ainda coleções de jornais e revistas de marcas externas à empresa (uma vintena de marcas que vão de O Século à Colóquio Letras), nacionais e estrangeiras, coleções de recortes de toda a imprensa (organizadas por assunto e por personalidade) que abrangem várias décadas e foram feitas aquisições de arquivos externos, como é o caso do arquivo fotográfico do Diário Popular.

É mentira, ao contrário do que foi escrito, que a coleção do Diário de Notícias só esteja microfilmada desde 1970. Tanto o DN como o JN têm toda a sua coleção de jornais microfilmada, digitalizada e pesquisável. A partir do início deste século todas as publicações da Global Media Group (GMG) estão digitalizadas em PDF com reconhecimento de caracteres e metadados inseridos.

Também se afirma que o pretenso arquivo do Diário de Notícias está “arrumado num armazém, inutilizável”. É mentira. 

No armazém referido – umas instalações com seguranças e vigilância, climatizadas, com controlo de humidade está uma coleção do Diário de Notícias e outra do Mundo Desportivo (existem na nossa posse mais duas outras coleções completas de cada uma destas marcas), algumas outras publicações, para além de livros e obras de arte que, não fazendo parte do arquivo documental, pertencem ao património da empresa. 

Essas coleções estão disponíveis não só aos jornalistas do grupo como ao público em geral. Basta, para se proceder à consulta, fazer um pedido aos nossos serviços por e-mail ou por telefone, como acontece todos os dias.

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Alguns dos títulos que são hoje propriedade da Global Media Group José Sarmento Matos

O arquivo fotográfico, que estava guardado no antigo edifício do Diário de Notícias, encontra-se todo nas Torres de Lisboa, onde trabalham as publicações da GMG, e há outro arquivo fotográfico semelhante no edifício do Jornal de Notícias no Porto. Estão, igualmente, à disposição dos jornalistas do grupo e do púbico em geral.

Também se diz na notícia do PÚBLICO que o arquivo guarda um milhão de fotografias. É mentira. Só digitalizadas são mais de cinco milhões de fotografias, fora as que estão em papel.

Também se diz na notícia do PÚBLICO que o arquivo guarda 3,5 milhões de negativos, tem 50 mil chapas de vidro e zincogravuras, inúmeros originais de artistas e escritores.

São números e factos errados que não correspondem de modo algum à realidade, na maioria dos casos por defeito, noutros por excesso, noutros por pura falsidade.

Finalmente, a notícia do PÚBLICO difunde a informação segundo a qual há riscos “de extravio, deterioração e até destruição” deste arquivo.

Precisamente para garantir que todo este património não se extravia, não se deteriora, não se destrói e tem acesso público garantido, foram tomadas por nós medidas concretas. 

Uma vez que em Lisboa, em grande parte, estas coleções de jornais estão também disponíveis noutras instituições, concluímos que se prestava um melhor serviço ao país se arquivássemos e tornássemos acessível este património na zona do Porto.

Negociou-se, para isso, com a Câmara de Gaia, responsável pelo Arquivo Sophia de Mello Breyner, para onde irá a coleção, um protocolo cujos princípios gerais são estes:

  • O arquivo será sempre propriedade da Global Media Group;
  • Não existem retribuições financeiras envolvidas;
  • O público pode aceder ao arquivo, mas só para consulta. Qualquer comercialização do arquivo só pode ser feita pela GMG;
  • A câmara fará um seguro de dois milhões de euros;
  • Programaram-se várias iniciativas de valorização, digitalização, conservação e disponibilização do arquivo, local e nacionalmente;
  • O protocolo durará 20 anos, renováveis por períodos de cinco anos.

A mudança deveria ter começado em março mas, devido à crise provocada pela covid-19, foi adiada.

De fora deste acordo ficou o material fotográfico, mas estamos a negociar protocolos semelhantes com outras instituições para garantir a sua preservação e acessos públicos num local que sirva os interesses do país. Uma das hipóteses é a Torre do Tombo

Pedro Tadeu, Director da Direcção de Documentação e Informação da Global Media Group
António Magalhães, Coordenador da Direcção de Documentação e Informação da Global Media Group
Sara Guerra, Subcoordenadora da Direcção de Documentação e Informação da Global Media Group

Os autores escrevem segundo o novo acordo ortográfico​

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