Cyberbullying e segurança online: prevenir e agir

Jovens que já eram vítimas em contexto escolar veem continuada a agressão, humilhação, exclusão e desrespeito, só que agora em modo online.

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No caso de a criança revelar a agressão, seja empático e ouc¸a as suas queixas e preocupações @petercalheiros

Hoje é o Dia Mundial da Criança, uma data que deve servir o propósito de dar voz e defender cada criança e cada adolescente fazendo valer os seus direitos. É direito de todas as crianças ser protegida contra a violência e o cyberbullying é uma forma de violência online cujos efeitos na vítima podem ser graves.

O cyberbullying é uma modalidade virtual do bullying que é caracterizado pelo uso das tecnologias para ameaçar, provocar, assediar, humilhar ou envergonhar, de forma repetida e intencional, uma criança, jovem ou adulto, conhecido ou desconhecido. Qualquer pessoa pode praticar e ser vítima de cyberbullying.

Estas intimidações, por acontecerem na Internet, assumem, como consequência, proporções maiores do que no bullying. Os ambientes de eleição são as redes sociais e os grupos como os do Facebook, Instagram ou WhatsApp, que servem para produzir e difundir insultos, humilhações e violência psicológica que provocam intimidação e constrangimento das vítimas.

Alguns dos grupos frequentados pelos jovens que são vítimas foram criados durante a fase da pandemia de covid-19 para servir como manutenção da relação entre colegas da turma, e, em alguns casos, servem como continuidade da vitimação que já ocorria antes, ou seja, jovens que já eram vítimas em contexto escolar veem continuada a agressão, humilhação, exclusão e desrespeito, só que agora em modo online. A vítima sente-se vexada, vendo circular imagens ou vídeos (verdadeiros ou montados) a ser agredida ou numa situação vulnerável, provocando um sentimento de insegurança e impotência que pode causar dano psicológico.

Geralmente as vítimas são crianças e jovens isoladas, tímidas ou com alguma vulnerabilidade que as difere da maioria dos colegas.

As testemunhas são aquelas crianças ou jovens que sabem de alguém que está a ser vítima de cyberbullying. Algumas tentam dar apoio à vítima para acabar com a situação; outras tomam abertamente o partido do agressor, encorajando-o a continuar; um terceiro grupo tenta manter-se neutra, mas o seu silêncio é visto como um sinal de aprovação ao agressor. Há, ainda, aquelas testemunhas que conhecem as situações, mas nada fazem, por medo de retaliação ou porque não sabem mesmo o que fazer.

Grande parte das vítimas não sabe como actuar e não conta aos seus pais que estas agressões ocorrem. A relação entre pais e filhos desempenha, nesta situação, um papel preponderante, uma vez que se não houver segurança e confiança, os jovens retraem-se porque acham que os pais poderão culpá-los e retirar-lhes o acesso ao telemóvel ou à Internet. Tal faz com que estes jovens se sintam penalizados duas vezes (porque são agredidos e porque não podem contar o que acontece, sentindo-se desprotegidos). A partir daqui temos crianças e jovens a guardar para si emoções com as quais não sabem lidar e que causam muito mal-estar e sofrimento.

Importa referir que muitos pais não têm literacia digital que os permita intervir adequadamente e, desta forma, não conseguem ter a oportunidade de ensinar a criança a proteger-se, nem de actuar quando há um problema. Desta forma, a divulgação de informação sobre o tema para pais, professores e crianças é, sem dúvida, uma mais-valia, porque pessoas informadas podem mais facilmente agir e prevenir-se.

Alguns sinais de alerta para pais e professores são a presença de isolamento, ansiedade, problemas de sono, tentativa de esconder o que está a fazer no computador/telemóvel, receio quando recebe uma mensagem, irritabilidade fácil, recusa ou desinteresse súbito do telemóvel/computador, mudanças de humor e alterações do apetite.

Alguns cuidados simples podem ajudar as famílias a ficarem longe do cyberbullying. Ficam aqui algumas ideias de prevenção e para quem está a ser vítima.

  • Transmita aos seus filhos valores como a tolerância, a empatia, a responsabilidade, o respeito pelos outros e por si próprio.
  • Pais e filhos devem informar-se sobre as melhores formas de usar a tecnologia e sobre o que é o cyberbullying, abrindo espaço ao diálogo sobre as formas de prevenção e de actuação.
  • A escola deve ter um papel de prevenção e de comunicação sobre o cyberbullying através de palestras para pais e alunos, cartazes e da promoção de comportamentos anti-bullying.
  • A supervisão dos pais é importante, sendo diferente de controlo. É importante conhecer as plataformas digitais as quais se ligam as crianças e jovens garantindo que não se expõem demasiadamente. Explique que o objectivo é protegê-los e siga este princípio sem invadir a sua privacidade.
  • Os pais devem definir tempos e limites diários para os seus filhos usarem a Internet. As crianças e adolescentes tem dificuldade em fazer este controlo sozinhas e dizer que “ela já tem idade para saber” pode espelhar a desresponsabilização da sua função parental.
  • Filhos mais velhos que têm conhecimento sobre o uso da Internet podem ajudar pais e irmãos a navegarem em segurança.
  • Os pais também não devem estar constantemente ligados, procurando dispor de tempo em família.
  • Estar atrás de um computador pode desinibir comportamentos e gerar impulsividade. Antes de partilhar alguma coisa reflicta sobre o impacto que pode ter e ensine a criança a fazer o mesmo.
  • No caso de a criança revelar a agressão, seja empático e ouça as suas queixas e preocupações. Mostre-se aberto, sem acusar ou culpar. Isto ocorre de forma mais fácil quando existe uma relação de proximidade e de confiança com a criança ou jovem.
  • Tente travar a situação e recolha provas, como capturas de ecrã ou fotografias das mensagens que demonstrem os actos de cyberbullying.
  • Caso vítima e agressor frequentem a mesma escola reporte o caso e peça a colaboração da escola, assim como aos pais do agressor. Na escola, pode recorrer ao psicólogo ou ao director de turma como mediadores.
  • Caso as ameaças sejam graves, incluindo conteúdo sexual, chantagem agravada ou extorsão, contacte a PSP, a GNR ou a Escola Segura.

Para saber mais aceda à área da violência online da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima.

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