Quem quer fazer batota para ser milionário?

Quiz, uma nova minissérie de três episódios da ITV, chegou esta segunda-feira à HBO Portugal e conta a história de um escândalo da versão original de Quem Quer Ser Milionário?.

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Sian Clifford, Matthew Macfadyen e Michael Sheen em Quiz, a nova minissérie sobre o escândalo do Quer quer ser milionário? britânico DR

Em 2003, os britânicos Charles e Diana Ingram foram julgados e condenados por terem defraudado, dois anos antes, a versão original do concurso televisivo Quem Quer Ser Milionário?. Charles tinha vencido o prémio máximo de um milhão de libras (hoje equivalente a cerca de um milhão e 636 mil euros) através de um esquema elaborado de batota que envolvia um cúmplice a tossir no público.

Foi um escândalo que assolou o Reino Unido no início do século e tornou-se, em 2015, o foco de um livro de investigação do entretanto desaparecido jornalista Bob Woffinden e do grande mestre de xadrez James Plaskett. Desse livro, James Graham escreveu uma peça, agora adaptada à televisão pela ITV, a mesma estação que transmitia Quem Quer Ser Milionário? quando se estreou, na minissérie Quiz, que se estreou esta segunda-feira na HBO Portugal.

São três episódios à volta de 45 minutos cada, realizados por Stephen Frears naquele modo de “ficção de prestígio britânica” em que o realizador parece ter empancado nos últimos anos. A série começa no julgamento dos Ingram e do seu cúmplice em 2003, e depois volta a 1997, para mostrar a génese de Quem Quer Ser Milionário? — e a forma como floresceu num panorama televisivo que queria galvanizar os espectadores com entretenimento de massas depois do funeral da Princesa Diana. É uma série de época, algo que se nota não tanto pelo guarda-roupa mas pela tecnologia e a falta dela. 

O concurso nasce e torna-se um sucesso que leva algumas pessoas à obsessão, e a um grupo de aspirantes a concorrentes a unirem-se para se ajudarem uns aos outros — a troco de 25% do prémio final. Primeiro é o irmão de Diana Ingram, com quem ela e o pai fazem quizzes em pubs, que vai ao programa três vezes, sem chegar a concorrer, acabando por conseguir à quarta vez, o que começa a fazer com que a produção repare nele. Depois é Diana, e só a seguir vem Charles.

Tem um óptimo elenco, encabeçado por Matthew Macfadyen, que desde 2018 tem tido muito reconhecimento a fazer do americano Tom Wambsgans em Succession, e Sian Clifford, a irmã de Phoebe Waller-Bridge em Fleabag, como o casal Ingram, contando também com Michael Sheen, actor recorrente de Frears, no papel de Chris Tarrant, o apresentador original da versão britânica do concurso.

É uma história interessante, e mesmo que a execução não seja brilhante, é sólida e particularmente forte quando observa a maneira como a mecânica do concurso explorava as emoções, angústias e desejos dos concorrentes. Não chega aos calcanhares, por exemplo, de Quiz Show, o filme de 1995 de Robert Redford sobre o escândalo do programa americano Twenty-One, do final dos anos 1950, um caso que voltou às notícias com o anúncio deste domingo da morte, aos 93 anos, de Herbie Stempel, a personagem que John Turturro interpretou nesse filme, o denunciador de todo o caso.

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