Boas notícias para superar a “economia-zombie

A estratégia para o relançamento da economia pode ser uma oportunidade histórica para Portugal sair da armadilha do rendimento médio onde patina há duas décadas.

Se dúvidas houvesse sobre o acerto da escolha de António Costa Silva para desenhar o próximo ciclo da economia que é crucial reinventar sobre os escombros da pandemia, bastava ler o seu último texto no PÚBLICO para as dissipar. O gestor da Partex abre o livro e mostra um caminho que só os militantes da heterodoxia do Estado controlador ou os crentes numa economia etérea feita de pastagens verdes e sem minas nem floresta de produção podem desprezar. Está lá tudo: urgência de uma economia inclusiva que combata desigualdades, aposta nas infra-estruturas e nas cadeias logísticas, investimento na agricultura, na floresta ou nas minas de lítio ou o incentivo às redes públicas e privadas de ciência e tecnologia que abram portas a um indispensável futuro digital.

Por estes dias em que vivemos ainda sobressaltados com surtos de infecção em Lisboa, quando a luta pelo emprego é duríssima e tantas empresas lutam pela sobrevivência, pode parecer extemporâneo falar do relançamento da economia. Até porque, para um país como Portugal, essa ambição só parece real se contar com um forte apoio europeu que, apesar de estar desenhado em traços grossos, não é ainda garantido. Mas, como dizia esta semana Elisa Ferreira em entrevista à TSF, “é importante que os países e as regiões comecem já a trabalhar” no futuro e o façam “virados para a frente e não repetindo aquilo que era o nosso passado”. Esta pode ser uma oportunidade histórica para Portugal sair da armadilha do rendimento médio onde patina há duas décadas.

É neste contexto que deve ser discutida a escolha de António Costa Silva. O seu perfil e o seu pensamento são conhecidos e dão um sinal: mostram que o Governo parece estar apostado numa estratégia baseada na criação de riqueza na qual o Estado se limita ao papel de facilitador e de regulador. Mostra uma opção que se inspira mais no centrismo pragmático do primeiro-ministro, de Siza Vieira ou de Mário Centeno do que na sedução controladora e estatizante da ala esquerda do PS. Mostra um caminho mais perto das prioridades do PSD, CDS e, eventualmente, da Iniciativa Liberal do que do Bloco e do PCP.

Um país pobre de recursos não pode olhar para as suas grandes empresas, para sectores que geram valor acrescentado como a floresta ou para oportunidades como as minas de lítio como inimigos a abater. É possível conjugar inclusão, respeito pelo ambiente e modernidade tecnológica. Se queremos um país com uma economia europeia, a discussão sobre o relançamento terá de abolir os tiques que a amarram aos estereótipos que a esquerda mais extremada lhe injectou.

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