OMS: Alemanha diz que saída dos EUA é um “revés decepcionante”, UE pede a Trump que reconsidere

O ministro da Saúde alemão, Jens Spahn, disse que a organização internacional precisa de ser reformada e a União Europeia de assumir a liderança no seu financiamento. Rússia reagiu dizendo que saída americana vai prejudicar a cooperação internacional.

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Jens Spahn desafiou a União Europeia a assumir um papel de liderança na Organização Mundial de Saúde FABRIZIO BENSCH/Reuters

O Presidente Donald Trump anunciou na sexta-feira a saída dos Estados Unidos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e, aos poucos, as principais potências mundiais começam a reagir. A Alemanha disse ser um “decepcionante revés”, a Rússia garantiu que a decisão vai prejudicar a cooperação a nível internacional e a União Europeia pedoi a Trump para voltrar atrás.

“É um decepcionante revés para a saúde internacional. Se a OMS quer fazer alguma diferença no futuro, precisa de reformas. E a UE [União Europeia] deve assumir um papel de liderança e ter uma maior participação financeira. Essa é uma das principais prioridades para a nossa presidência da UE”, escreveu no Twitter o ministro da Saúde alemão, Jens Spahn. 

A reforma da organização é um tema constantemente discutido entre os Estados que a integram e foi uma das principais razões alegadas por Trump. O Presidente americano tem acusado a OMS de falhar na resposta à pandemia de covid-19, apesar de num primeiro momento a ter elogiado, de ser incapaz de se reformar e de estar sob “controlo total” da China, que acusa de ter permitido que o vírus se espalhe pelo mundo. 

A Rússia não tem dúvidas de que a saída americana vai fragilizar a lei internacional em termos de cooperação em assuntos sanitários, disse à agência TASS a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova. 

A União Europeia pediu ao Presidente Trump para repensar a sua decisão.

“A cooperação global e a solidariedade através de esforços multilaterais são a única avenida efectiva e viável de ganhar esta batalha que o mundo enfrenta”, disseram, num comunicado conjunto, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o chefe da diplomacia de Bruxelas, Josep Borrell. Anunciaram que a UE já destinou “fundos adicionais” para o financiamento da OMS, devido ao fim das contribuições americanas, que pode seguir-se à decisão de Trump.

Há dúvidas se Trump pode avançar legalmente com a saída dos Estados Unidos da OMS, criada em 1948. “É um abuso dos poderes presidenciais”, disse à rádio NPR Larry Gostin, director do O'Neill Institute for National and Global Health Law da Universidade de Georgetown. “A única situação em que ele o pode fazer é se o Congresso concordar em lhe dar antecipadamente os poderes para isso”. 

O Congresso ainda não se pronunciou. Mas há legisladores do próprio Partido Republicano contra.

“Discordo da decisão do Presidente”, disse o senador republicano Lamar Alexander. “Retirar os Estados Unidos pode, entre outras coisas, interferir em testes clínicos que são essenciais para o desenvolvimento de vacinas, as quais os cidadãos dos Estados Unidos e do mundo precisam”. 

“Nunca foi sobre reformar a OMS. Foi tudo mentira. Foi sempre sobre distracção e bode expiatório. Abandoná-la vai castrar a nossa capacidade para travar futuras epidemias e eleva a China como potência mundial a nível da saúde”, reagiu o senador democrata Chris Murphy. 

No entanto, Trump pode retirar o financiamento americano à organização, como já tinha ameaçou em Abril, e prejudicar o seu funcionamento e a cooperação internacional, dado Washington ser o maior contribuidor ao dar anualmente 405 milhões de dólares. Os congressistas poderão avançar com leis que permitiam financiar a OMS, mas aí os republicanos entrariam em choque directo com o Presidente em ano de eleições presidenciais.

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