O interior do Algarve e Alentejo despertam “interesse acrescido” nas férias dos portugueses

Os hotéis começam a abrir, de forma cautelosa, enquanto esperam que os aviões levantem voo. A par da oferta tradicional de alojamento, há ainda a contar com as 200 mil residências de segunda habitação.

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evr enric vives-rubio

Com os feriados a aproximarem-se e abertura da época balnear já no próximo fim-de-semana, o sector turístico algarvio espera que Portugal rume ao sul, de forma cautelosa. “Estamos a navegar à vista”, diz o director de operações do grupo Vila Galé, Carlos Cabrita, com uma oferta de quatro unidades no Alentejo e nove no Algarve. As reservas para as férias de Verão, diz, processam-se em dois sentidos - os que preferem o campo (turismo rural), francamente em crescimento, e os que estão ansiosos por meter os pés na areia e mergulhar no mar. “Regista-se um maior interesse da parte de quem prefere o interior”, acrescenta o gestor, lembrando que, “passo a passo”, o país começa a sair de casa.

O grupo Vila Galé, para já, reabre cinco dos nove hotéis que tem no Algarve. No Alentejo, todas as quatro unidades entrarão em pleno funcionamento no dia 9, seguindo a tendência deste anos de pandemia em que o interior está a despertar um interesse acrescido pela percepção da segurança que proporciona. 

O certo é que o hotel rural Quinta do Marco, com 28 quartos, junto a Santa Catarina (Tavira) reabre no dia 8 e tem reservas que garantem que “vai ficar quase lotado, no fim-de-semana dos feriados”, afirma o director-geral Helder Martins, prevendo que a maior parte dos clientes não chegue a sair da quinta para ir às praias da ria Formosa: “Tenho três clientes que me disseram: encosto o carro, vou andar pelo campo, não vou sair daí”, exemplifica. No entanto, não deixa de notar que este será um Verão atípico. “Na semana seguinte, só tenho quatro ou cinco quartos ocupados – vamos andar aos altos e baixos”.

A confiança dos consumidores portugueses parece estar dependente da evolução da pandemia mas os mercados externos começam a dar sinal. Os aviões vão levantar voo. Mas, na perspectiva da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), o relançamento do turismo passa por captar, em primeiro lugar, os portugueses, progredindo depois de uma forma “gradual” para os mercados externos.

A principal companhia aérea da Suíça, a Edelweiss Air, inaugurou na passada quinta-feira o primeiro voo internacional para Faro após o encerramento de fronteiras. A Transavia Netherlands retoma a operação de Amesterdão para Faro a 4 de Junho, com um voo por semana. “Já estão a prever aumentar para dois voos/semana”, acrescenta o presidente da Região de Turismo do Algarve, João Fernandes, destacando: “O Algarve está a postos para receber os turistas com toda a segurança”. Por outro lado, a companhia aérea Lufthansa incluiu o Algarve numa das 20 rotas que vai reabrir, enquanto que a Ryanair e a Jet2 já anunciaram que retomam os voos para Faro no dia 1 de Julho.

Sobre o negócio da aviação, João Fernandes lamenta que a TAP, “ao contrário das outras companhias aéreas, não reactive a ligação Faro/Lisboa – essencial para fazer a ligação com outros mercados”.

“As pessoas querem vir de férias e há muitos pedidos de informação”, diz o presidente da AHETA, Elidérico Viegas, depois de reunir com os membros dos órgãos sociais onde se discutiu a forma do Algarve se abrir ao mundo sem colocar em causa a imagem de um destino turístico seguro. No próximo dia 31, domingo, é a vez da Luxair recuperar o voo entre Luxemburgo e Faro. “As coisas começam a mexer”, observa. “As reservas vão disparar desde que haja condições de segurança - e os hotéis estão preparados”, enfatiza-

Segundo a AHETA, no sector da hotelaria tradicional classificada, 60% das unidades – numa oferta superior a 400 hotéis e empreendimentos – anunciou a abertura em Julho e Agosto. Mas a oferta estende-se, também, às 200 mil residências de segunda habitação, das quais muitas são alugadas directamente pelos proprietários ou através de agências.

Por enquanto, a região está ainda muito parada. “A diferença vai notar-se com a abertura dos hotéis”, diz o representante dos hoteleiros. O facto do Algarve não ter sido, até agora, muito atingido pela pandemia faz com que, na perspectiva do sector turístico, a região possa ser apresentada com o selo de “destino seguro”, sobretudo relativamente a Espanha. Nesse sentido, João Fernandes destaca que Portugal e o Algarve, em particular, “têm estado em destaque na imprensa britânica” pela estratégia adoptada no controlo da doença.

Na hotelaria classificada, os turistas oriundos do Reino Unido representam cerca de 30% das dormidas - quase seis milhões num total, em 2019, de 21 milhões, segundo dados da RTA.

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