Não TAP os olhos

Só lamento que seja tão difícil injetar dinheiro num produto que tanto nos dá e tenha sido tão fácil enterrar mais 850 milhões de euros num banco.

No tempo das privatizações de Passos Coelho e Paulo Portas, em 2014, fui um dos fundadores do movimento Não TAP os Olhos. Passados seis anos, os argumentos que foram apresentados na altura para justificar a necessidade de o Estado manter a TAP no controlo da esfera pública continuam actuais.

Os portugueses mantiveram-se calados em relação à banca, Galp, EDP, REN, Cimpor, PT, ANA, CTT, mas agora é de levantarmos as vozes antes que nos levem o pouco que ainda nos resta. Nunca entendi bem este sentimento generalizado de condescendência em relação à destruição de uma das nossas marcas-símbolo, que tanto representa para a económica e reputação do país além-fronteiras.

Ao contrário do que tem sido insinuado por aí, com campanhas enganosas de alguns partidos políticos menos conscientes, a TAP não recebe dinheiros públicos desde 1998. A ajuda financeira que agora tanto se fala, por parte do Estado, será fundamental para a sobrevivência de 14 mil colaboradores que a TAP emprega e da própria companhia de bandeira que tem valido tantos louvores a Portugal. O desaparecimento da TAP seria catastrófico não apenas para os muitos trabalhadores diretos e indiretos que da sua operação diária dependem, e consequentemente para uma Segurança Social já de si muito congestionada desde o início desta crise, mas também para a economia nacional que perderia um dos seus ativos com maior potencial.

Só lamento que seja tão difícil injetar dinheiro num produto que tanto nos dá, enquanto nação e povo, e tenha sido tão fácil enterrar mais 850 milhões de euros num banco que, já nem sendo nosso, a única coisa que tem dado é problemas. Seja como for, apresento nove razões essenciais para se manter a TAP pública e só peço que, tal como há seis anos, não tapem os olhos.

1. Símbolo nacional

A TAP é um dos símbolos da nossa soberania, da diáspora e do interesse nacional. Sempre que um avião descola representa uma parcela do nosso território no estrangeiro, por isso não podemos aceitar que um país prescinda da sua independência e autonomia.

2. Fundamental para o Turismo

Se já antes da pandemia causada a TAP era fundamental para o Turismo, num futuro próximo a companhia aérea será ainda mais importante para revitalizar este sector em Portugal que, em 2019, representou cerca de 14,5% do nosso PIB.

3. Estratégia nacional

Portugal tem uma posição geográfica privilegiada como plataforma giratória de voos para África e América do Sul. Se o Estado português não controlar a estratégia da companhia aérea de bandeira existe a possibilidade de outros países assumirem o papel que temos assumido até aqui, o que trará prejuízos incalculáveis para a economia.

4. Finanças públicas

Se o Estado deixar de ter o controlo da TAP vão ser os contribuintes a pagar através impostos para garantir não só os subsídios de desemprego, dos milhares de colaboradores que ficarão sem trabalho, como para subsidiar rotas a manter por operadores privados e também para tapar o buraco do real valor da empresa TAP nas contas públicas.

5. Injecção de dinheiros públicos

Esta é a maior mentira de todas as que têm sido reiteradamente veiculadas e que não tem interessado a ninguém desmentir. Tal como em 2014 foi confirmado pela Comissária Europeia da Concorrência, Margrethe Vestager, e como já referi, desde 1998 que o Estado não injecta dinheiro dos contribuintes na TAP. A TAP, por imposição das regras europeias, tem-se financiado na banca privada nacional e internacional.

6. Marca TAP

A TAP tem 75 anos. Tem a experiência de uma vida e é essencial para a comunidade lusófona constituída por 250 milhões de pessoas. Alguém tem noção de quanto vale a marca TAP, motivo de orgulho para todos os portugueses e altamente prestigiada no estrangeiro? É incalculável.

7. Privatizações lesivas

Nenhum português deve aceitar que a TAP se venha a transformar numa ANA, PT, REN, EDP ou CTT, cujas privatizações se revelaram altamente lesivas para o interesse nacional. Se o problema da TAP é a gestão, então que se contratem melhores gestores. A ANA foi vendida à Vinci por 3 mil milhões de euros quando valia 12 mil milhões. A Vinci que, por sua vez, quer desperdiçar ainda mais dinheiro dos contribuintes com a construção de um suposto aeroporto no Montijo (outro tema que justificaria um texto completo).

8. Segurança

Na aviação, o aspecto mais importante para os passageiros é a segurança. A TAP não tem um acidente grave há mais de 30 anos e a sua manutenção é considerada das melhores do mundo.

9. Coesão nacional

A companhia de bandeira portuguesa é necessária para preservar e defender a coesão nacional, devendo aumentar o número de voos para o Porto e para Faro para que o turismo seja repartido por todo território e para que se defenda por igual os interesses dos empresários nacionais.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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