E se a sua sala de estar estivesse “em cima” do relvado?

Aarhus montou 10 ecrãs gigantes no estádio e ligou-se a mais de 20.000 adeptos por videoconferência. Uma solução colorida em tempos cinzentos.

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O jogo com o Randers, no qual não faltou apoio virtual DR

Reproduzir os cânticos dos adeptos na aparelhagem sonora, utilizar figuras de cartão nas bancadas ornamentadas com adereços do clube, dispor manequins intercalados nas cadeiras. Todas estas estratégias têm sido usadas por esse mundo fora para minimizar o impacto do futebol à porta fechada. Na Dinamarca, o Aarhus foi um pouco mais engenhoso: o clube montou LCD gigantes ao longo da linha lateral e “invadiu” as casas dos adeptos que, a partir da sala de estar, passaram a estar virtualmente em cima do jogo.

Algo de semelhante já tinha sido experimentado em Portugal, quando a selecção nacional recebeu a Suíça, no dia 10 de Outubro de 2017, na caminhada para o Mundial 2018. Na altura, foram instalados ecrãs gigantes em pontos estratégicos do Estádio da Luz, que permitiram a alguns adeptos, em paragens mais ou menos distantes, acompanharem o jogo à distância com a sensação aproximada de estarem in loco.

O Aarhus, porém, elevou esta intenção a um outro patamar. O responsável pela comunicação do clube entrou em contacto com a Zoom, empresa que se tem imposto no mercado digital neste período de pandemia, para averiguar a possibilidade de aplicar o conceito de videoconferência a um estádio de futebol. Os acertos tecnológicos foram feitos e o desafio colocado em marcha.

O passo seguinte foi abrir candidaturas para os adeptos que quisessem juntar-se, a partir de casa, ao encontro do campeonato dinamarquês com o Randers. A ideia, reforce-se, passava por transpor para o Ceres Park o ambiente de apoio ao Aarhus, a partir da sala de estar de cada sócio. A adesão foi grande e o resultado foi a instalação de 10 ecrãs de enormes dimensões, cada um com capacidade para 200 janelas, ao longo de uma das linhas laterais.

Contas feitas, quando os jogadores entraram em campo tinham 2000 casas virtuais à mão de semear. Dependendo do número de adeptos presentes em cada, os decibéis registados no apoio à equipa não terão sido de desprezar. Só houve um senão: o desfasamento entre a emissão (em casa) e a reprodução (no estádio) do som, um delay que variou entre os cinco e os quase 20 segundos e que conferiu um grau extra de estranheza à partida.

A respeito deste percalço telemático, nada foi possível fazer, mas o clube cuidou de manter um ambiente saudável e uma conduta correcta junto dos seguidores. Mesmo à distância. Como? Destacando 50 moderadores que fiscalizavam os gestos dos adeptos, transmitidos através do computador, do tablet ou do telemóvel.

“Foi fantástico sentir outra vez esta adrenalina e creio que, no clube e na cidade, conseguimos criar uma excelente moldura para o jogo. Foi um encontro duro, em que tivemos um grande apoio e isso significa muito para nós”, resumiu o treinador do Aarhus, David Nielsen, satisfeito também com o regresso à competição.

A experiência correu tão bem (o clube estima que, no total, tenham sido 30.000 os adeptos a acompanhar o jogo de forma virtual) que vai ser repetida na segunda-feira, diante do OB. E pode ser que, nessa altura, o plantel consiga retribuir o apoio com um triunfo, depois do empate (1-1) de ontem.

“É incrível ver tudo isto. Ficamos sensibilizados, não esperava tanto apoio. E durante o dia foi possível ver muita gente na cidade com camisolas e bandeiras do Aarhus. Sentimo-nos orgulhosos e muito felizes”, resumiu Patrick Mortensen, autor do único golo da equipa no embate com o Randers. Um golo celebrado com delay.

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