Reserva Municipal de Arqueologia de Viseu recupera colecções “entregues a si próprias”

Há 100 anos foi projectado um Museu da História que não chegou a sair da casa do arqueólogo José Coelho. Um século depois, a reserva municipal de Viseu tornou-se realidade e tem como prioridade reunir e tratar do património que está disperso e desvalorizado

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Uma das prioridades continua a ser o estudo da Cava de Viriato Martin Henrik

Viseu já tem uma reserva municipal arqueológica, um projecto que começou a ser desenhado há um século (1920), numa proposta do então arqueólogo José Coelho, e que agora foi confirmado entre a Direcção-Geral do Património Cultural e o município.

Um processo que representa o “fechar de uma etapa”, como salientou Bernardo Alabaça, director-geral do Património, mas a “abertura de um novo caminho” para o tratamento e valorização do património, como referiu, por seu lado, Jorge Sobrado, vereador da Cultura na Câmara de Viseu, na assinatura do protocolo.

“A nossa prioridade não é a de reclamar património e colecções que estão inventariadas ou estudadas, é a de solicitar a entrega de acervos que estão dispersos em armazéns, muitos deles particulares, mas também do Estado, sem as condições técnicas adequadas de preservação e sem dinâmicas de estudo e inventários. A nossa prioridade é a de proceder à reunião dos acervos que estão entregues a si próprios e sem possibilidades de valorização cultural”, salientou o vereador da Cultura.

A reserva acolhe o depósito e inventário de colecções e achados que, actualmente, se encontram dispersos por entidades privadas e públicas, alguns deles que estavam na Direcção-Geral do Património, e funciona também como pólo de investigação. Segundo Jorge Sobrado, uma das prioridades continua a ser o estudo da Cava de Viriato, “um monumento nacional que permanece como o maior mistério da arqueologia” e no qual, nos próximos dias, “vai ser feita uma operação de radiografia que permita identificar estruturas construtivas no subsolo que depois possam orientar novos projectos de investigação”.

“Sentimos que está mais por fazer do que aquilo que está feito”, sublinhou o vereador, lembrando que o município agora está capacitado para uma “gestão mais autónomo do património do concelho e uma gestão directa dos acervos e colecções que forem depositadas nesta reserva”.  “Este serviço passará a concentrar todas as informações sobre as intervenções arqueológicas no concelho, permitindo uma maior salvaguarda patrimonial”, reforçou.

O investimento em estantaria para receber os achados e tecnologia é o próximo passo.

Se há 100 anos, José Coelho, uma referência na área da arqueologia no início do século, tinha proposto a criação de um Instituto Etnológico da Beira, foi há dois que o município de Viseu começou a dar forma ao pólo arqueológico quando escolheu a Casa do Miradouro (onde está o Museu dedicado ao arqueólogo) para ser o centro de investigação e preservação do património.

“Não deixamos de sentir que estamos a cumprir esse sonho e a fazer justiça ao seu legado”, frisou Jorge Sobrado.

Na Casa do Miradouro estão agregados vários serviços. Além de ser o local da reserva, é também o espaço dedicado à investigação. Serve de apoio às actividades e colecções da rede municipal de museus, com destaque para o Museu de História da Cidade que abriu em 2018, e promove um serviço de mediação cultural ligado à educação e à promoção do turismo arqueológico.

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