JSD de Lisboa cancela conferência com Domingos Farinho e Silva Carvalho

O suposto ghostwriter de José Sócrates e o antigo superespião iam debater a protecção de dados e a cibersegurança.

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Jorge Silva Carvalho, o ex-espião Fabio Augusto

Foi à última hora que a direcção concelhia de Lisboa da JSD cancelou uma iniciativa surpreendente, que reuniria na noite desta terça-feira, através da plataforma digital Zoom, duas inesperadas personalidades alheadas da esfera do principal partido de oposição: Domingos Soares Farinho, professor auxiliar da Faculdade de Direito de Lisboa, que colaborou na tese de mestrado de José Sócrates; e Jorge Silva Carvalho, o ex-espião condenado a quatro anos e meio de pensa suspensa, apresentado como consultor especializado em Inteligência e Segurança.

Não se tratou de uma iniciativa tomada com critérios de abrangência política para suscitar qualquer discussão do tema “Protecção de Dados e Cibersegurança, um olhar após a pandemia”, mas sim de um erro de convocatória reconhecido in extremis. Afinal, não se pretendia alargar o debate a áreas ideológicas diversas das que representa a jota laranja, como acontece tradicionalmente na Universidade de Verão do partido. Foi, e é, um embaraço.

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“A organização era da JSD de Lisboa, pelo que não farei qualquer comentário”, precisa, ao PÚBLICO, Mauro Xavier, ex-presidente do PSD no concelho de Lisboa que se demitiu em desacordo com a escolha de Teresa Leal Coelho para candidata à presidência do município da capital e bateu com a porta a Passos Coelho, que seria um dos participantes na conferência como quadro da Microsoft Europe. 

“Se fosse eu a organizar, não seria este o painel que convidaria, mas aceitei o convite da JSD de Lisboa, independentemente do painel”, admite. “Enquanto ex-presidente do PSD de Lisboa achei que podia juntar alguma coisa interessante e não tenho por costume querer saber quem participa nos painéis”, assegura.

“Houve um imprevisto e foi cancelado”. É desta forma que o antigo dirigente social-democrata lisboeta sintetiza o que se passou. Apesar do hermetismo do comentário, o PÚBLICO sabe que este caso - nas suas diversas vertentes de erro, equívoco, desatenção ou voluntarismo - causou mal-estar e surpresa na concelhia de Lisboa do PSD.

Ter Farinho e Silva Carvalho, figuras polémicas das quais o partido sempre se demarcou, a participar numa iniciativa com o guarda-chuva da JSD da capital, e ainda mais sobre um tema sensível, não é bom cartão-de-visita para a jota do PSD de Lisboa.

O PÚBLICO contactou Ivan Duarte, presidente desta estrutura da Juventude Social-Democrata no concelho da capital, mas não obteve qualquer resposta. Assim, não se sabe se foi um erro, um equívoco, desatenção ou voluntarismo.

Domingos Farinha, apontado como ghostwriter da tese de mestrado do ex-primeiro-ministro José Sócrates publicada no livro A confiança do Mundo -Sobre a tortura em Democracia, foi acusado em 4 de Dezembro do ano passado pelo Ministério Público dos crimes de burla qualificada, abuso de poder e falsificação de documento. Por ter colaborado com o antigo primeiro-ministro apesar do regime de exclusividade que mantinha com a Faculdade de Direito de Lisboa, onde é professor.

Este caso apareceu no âmbito da Operação Marquês, na investigação do Ministério Público ao antigo primeiro-ministro e ex-secretário-geral do PS.

Por seu lado, Jorge Silva Carvalho, ex-director do Serviço de Informações Estratégicas e de Defesa (SIED), daí a designação de superespião, foi condenado a quatro anos e meio de prisão pelos crimes de violação de segredo de Estado, acesso ilegítimo a dados pessoais, abuso de poder e devassa da vida privada por meios informáticos.

A pena é suspensa na condição de pagamento de indemnizações no valor de 25 mil euros, 15 mil ao então jornalista do PÚBLICO, Nuno Simas, que investigava queixas de pessoal do SIED ao seu director, e dez mil a Francisco Pinto Balsemão, cuja vida privada foi devassada. 

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