Um ano e meio milhão para recuperar Santa Clara-a-Velha das cheias de 2016

Empreitada que teve início nesta quarta-feira, no mosteiro de Coimbra, inclui melhoramentos no sistema de bombagem para prevenir futuras cheias.

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As cheias foram há quatro anos ADRIANO MIRANDA / PUBLICO

Quatro anos depois das cheias que inundaram o mosteiro de Santa Clara-a-Velha, em Coimbra, arrancaram os trabalhos para resolver os problemas causados pela subida do nível das águas. A empreitada lançada nesta quarta-feira pela Direcção Regional da Cultura do Centro (DRCC), que tem a tutela do monumento, inclui a limpeza de fachada, pavimentos e azulejos, bem como a reparação de outras estruturas afectadas pela inundação, como a plataforma em madeira do coro alto ou os acessos ao monumento.

O objectivo é “voltar a ter as condições completas de visita”, explicou a directora da DRCC, Suzana Menezes, na apresentação da obra. Apesar de ter encerrado com as cheias, o monumento nacional reabriu portas ainda em 2016 e tem recebido público desde então. Os trabalhos deverão decorrer ao longo de um ano e custar 550 mil euros, sendo que 85% do valor é comparticipado por fundos comunitários.

Parte da demora do início dos trabalhos explica-se com um concurso para a empreitada que ficou deserto, em Fevereiro de 2019. A DRCC viu-se obrigada a renegociar com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Centro o montante do financiamento e a subir o preço base. “Os valores não estavam de acordo com a expectativa do mercado”, reconhece Suzana Menezes, que está no cargo desde o início do ano.

Além dos trabalhos de restauro e conservação, a obra inclui também o reforço do sistema de bombagem para acautelar futuras cheias. No mesmo sentido, os portões exteriores serão reforçados e será executado um sistema de drenagem dos muros da cerca do mosteiro que foi definitivamente abandonado em 1677, precisamente por causa da constante subida do nível das águas. A última grande cheia do Mondego foi no final de 2019.

Suzana Menezes fala de uma “intervenção exaustiva e completa”. Estas são as obras de maior escala neste mosteiro do século XIV, localizado na margem esquerda do rio Mondego, desde a sua recuperação e abertura ao público em 2009, com a companhia de um centro interpretativo. Serão igualmente reparados os sistemas de iluminação e a rede eléctrica. ​A ministra da Cultura, Graça Fonseca, também presente na cerimónia, sublinhou a necessidade de se pensar na questão das alterações climáticas quando se restaura o património, antevendo as situações de potencial risco.

Em 2016, a então directora regional da Cultura do Centro, Celeste Amaro, responsabilizava a EDP, que gere a barragem da Aguieira, pela subida repentina do nível das águas e lamentava a ausência de informação prévia sobre o plano de descargas. Uma tese que ganhou força no ano seguinte, com um relatório da Ordem dos Engenheiros que indicava que “as normas de exploração da albufeira da barragem da Aguieira não foram cumpridas” e que a cheia de 11 de Janeiro de 2016 “poderia ter sido evitada/minimizada” se a gestão tivesse sido feita de outra forma. Questionada sobre a possibilidade de a EDP contribuir para o reparo dos estragos causados pela inundação de 2016, a actual responsável, Suzana Menezes, não quis comentar.

A directora Regional da Cultura do Centro falava aos jornalistas no final de uma visita ao centro interpretativo e do mosteiro com uma comitiva que incluiu a ministra da Cultura e os arquitectos Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez, do Atelier 15, que foram responsáveis pela obra de reabilitação do monumento em 2009, mas também da intervenção que teve início nesta quarta-feira. No interior da igreja do mosteiro, Alexandre Alves Costa pediu que fosse retirada do coro alto a televisão que está afixada numa parede, um elemento que considera “perverso” naquele espaço. O motivo? As pessoas iriam sentar-se a olhar para a televisão, a observar um qualquer vídeo explicativo, em vez de contemplarem o espaço, apontou.

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