Linhas europeias para crianças desaparecidas com mais de 55 mil chamadas em 2019

Fugas representam mais de metade dos novos casos de crianças desaparecidas na Europa. Violência doméstica é principal factor de risco para as fugas.

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SARA JESUS PALMA

As linhas europeias para crianças desaparecidas responderam a mais de 55 mil chamadas em 2019, abrangendo mais de 7.500 casos, segundo o relatório de 2019 da Missing Children Europe (MCE) que é a federação europeia para crianças desaparecidas e exploradas sexualmente. A maioria dos novos casos são fugas.

Os dados divulgados esta segunda-feira pela MCE indicam que as fugas representam 55% dos novos casos, os raptos parentais pouco menos de um quarto (23%) e que uma pequena parte dos casos reportados (3%) dizem respeito a crianças migrantes, alertando que a actual crise da covid-19 “aumenta os riscos para as três categorias”.

“As medidas de quarentena levaram a um aumento da violência doméstica, que é o principal factor de risco para as fugas”, lê-se num comunicado da MCE, notando que as linhas telefónicas europeias “testemunham que as crianças fogem apesar das medidas de isolamento” e que os números deverão aumentar “à medida que as medidas são levantadas”.

“O encerramento das fronteiras provocou novos casos de rapto internacional de crianças e levou a atrasos na investigação dos casos em curso e em novos casos”, sublinha a MCE, que lembra que as medidas de distanciamento social “limitam ainda mais o acesso das crianças migrantes aos serviços de assistência e apoio, podendo separá-las de pais doentes ou cuidadores e tornando-as mais vulneráveis aos traficantes”.

A organização incentiva as instituições da União Europeia, os estados-membros e as organizações não-governamentais a ajudarem as linhas de apoio à infância e juventude “durante estes tempos difíceis”, alertando para a importância do número único europeu (116 000) para crianças desaparecidas.

“As linhas de apoio às crianças desaparecidas 116 000 desempenham um papel crucial para garantir que todos os casos sejam seguidos e que todas as crianças, e os seus pais, tenham acesso a um apoio rápido, gratuito e eficaz”, sublinha o movimento, 

“As linhas têm de investir em tecnologia para oferecer os seus serviços remotamente e desenvolver opções de chat e outras respostas para garantir que todos tenham acesso igual e seguro a este apoio. Isto coloca uma pressão adicional nos recursos já por si limitados”, alerta a organização.

Lembra também que 60% das linhas 116000 que receberam financiamento das autarquias locais e nacionais em 2019 informaram que este financiamento não foi suficiente para garantir a prestação das normas de serviço exigidas.

Numa nota a propósito do Dia das Crianças Desaparecidas, que se assinala também esta segunda-feira, o Instituto de Apoio à Criança (IAC) alerta que o flagelo das crianças desaparecidas está muitas vezes escondido, pois “grande parte dos jovens pertencem a grupos de risco em que a família não desempenha o seu papel protector, como sucede, por exemplo, no caso das crianças acolhidas em lares ou outras estruturas residenciais”.

O IAC recorda que, através do sector “Projecto Rua”, tem dedicado a sua atenção a este fenómeno das fugas e sublinha que as fugas de instituições assumem “um número preocupante”.

Lembra também que desde 2007 foi atribuído ao SOS Criança do Instituto da Criança o número único europeu 116000, vocacionado para esta matéria específica, e que o IAC dispõe de uma equipa especializada “que escuta a criança ou o jovem, encaminha os seus apelos e presta apoio psicológico em algumas situações, em que é necessário cumprir o direito da criança à sua recuperação psicológica”.

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