O medo e a mágoa na vila onde Portugal enfrentou há um século uma outra “peste”: a tuberculose

O novo coronavírus não chegou ao antigo epicentro da luta contra a tuberculose. Mas instalou mais medo do que a “peste branca”. Os dias da pandemia recordam ao Caramulo o isolamento pré-covid-19 e trazem saudades de dias agitados. A mágoa maior da vila do interior ainda é o abandono.

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De repente ele estava ali, na morada da doença onde se sonhava a cura. À insuficiência da medicina atendera a crença nos poderes curativos do descanso, da alimentação certeira e dos bons ares do Caramulo. Valentina Vila fez a viagem de Bragança até à vila serrana para visitar o marido, recordando a fraqueza repentina do homem, as febres altas, o sangue expelido na tosse. Tuberculose, diagnosticara o médico, ordenando o internamento num sanatório. Ela não tinha medo. Ansiava o reencontro sem imaginar a surpresa com a geografia onde iria estacionar: “Era a coisa mais linda que já tinha visto…” Mais de 50 anos passados, ainda se emociona ao recordar aquele momento em que a ideia de futuro venceu o temor de um fim precoce para a “tísica”. Talvez por isso, desse ano de 1964 guardou primeiro a memória da serra “toda florida” e só depois a da doença. Ela que viu morrer gente e amparou, sem protecções, as hemoptises do marido e de muitos doentes do sanatório onde se empregou. “Não me incomodava. A gente não tinha noção, por isso não tinha medo.”

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