A ministra que não soube estar

O percurso da ministra da Cultura tem tido o condão de alienar por completo o sector que tutela

Se escalonássemos os membros do executivo pelo seu desempenho durante esta crise de saúde pública, não haveria grandes dúvidas sobre quem estaria nos extremos. Lá em cima, António Costa, o primeiro-ministro que teve capacidade de se reinventar e conduzir o país através desta crise com uma inesperada solidez. Lá em baixo, inexoravelmente, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, que se revelou um desastre em movimento.

Desde o dia em que decidiu lançar um festival de artistas confinados na televisão – o TV Fest, que ficaria mais conhecido por “esquema de pirâmide”, já que a cada artista caberia sugerir o seguinte – até às contas mal feitas nos apoios à comunicação social, o percurso da ministra tem tido o condão de alienar por completo o sector que tutela e, muito pior do que isso, tem-se se mostrado absolutamente incapaz de revelar ideias claras sobre como socorrer um sector em estado de penúria.

A apresentação, anteontem, de uma verba de 30 milhões a entregar às autarquias para programarem actividades culturais só pode ser vista como mais um sinal da irrelevância da ministra e da total desorientação do Governo nesta área. Trinta milhões são um montante 18 vezes superior aos 1,7 milhões que a Cultura anunciou para socorrer o sector e, significativamente, quem os apresentou foram António Costa e a ministra da Coesão Territorial. Mas como afirmam os agentes culturais, os milhões “não são uma boa notícia”, antes uma manobra de ilusionismo, já que se trata de dar aos artistas o que já era dos artistas...

A capacidade destrutiva da covid-19 veio pôr a nu a fragilidade das vidas da esmagadora maioria dos artistas que sobrevivem, muitas vezes no seu inteiro percurso profissional, como precários e intermitentes. Não é uma situação inédita a nível internacional, mas enquanto outros, do Canadá à Alemanha, da Espanha à França, procuraram estar à altura da necessidade de emergência, muitas vezes atribuindo aos artistas um salário, Graça Fonseca continua a tropeçar nas suas trapalhadas e na sua inacção.

Talvez se tenha deixado manietar por um país com fracos hábitos culturais em que perante a lengalenga dos “subsidiodependentes” continua ser difícil mostrar a todos a importância dos artistas e das artes. Mas isso só fala da sua fraqueza e incapacidade para o cargo, porque o que se esperava do titular da pasta, numa altura de emergência como esta, é que mostrasse, por palavras e acções que não há país sem cultura.

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