Sem a pandemia, “noventa doentes teriam sido operados. E não foram”

Num ano, John Preto, director do centro de responsabilidade integrada de Obesidade do Hospital de São João, no Porto, criado em Janeiro de 2019, diz que o hospital reduziu o tempo de espera para uma consulta de obesidade de cinco para apenas um ano.

Foto
Por causa da pandemia, tempo de espera para uma cirurgia de redução da obesidade aumentou de seis para "nove a dez meses" Adriano Miranda

O Centro de Responsabilidade Integrada (CRI) de Obesidade no Hospital de São João (HSJ), criado em Janeiro de 2019, e que dispõe de autonomia funcional e de uma equipa de 45 profissionais, conseguiu reduzir de cinco para apenas um ano as listas de espera por uma primeira consulta, segundo o seu director, o médico-cirurgião John Preto. Quanto às cirurgias, por causa da paralisação imposta pela pandemia, o tempo de espera aumentou agora de meio ano para “entre nove ou dez meses”.

Que estratégias foram adoptadas para garantir o acompanhamento dos doentes obesos durante o confinamento?
A única área totalmente suspensa – como a maior parte das áreas do hospital – foi o movimento do bloco operatório, com excepção da actividade emergente ou da patologia oncológica em que o atraso ou adiamento poderia prejudicar a sobrevida dos doentes. O restante acompanhamento, descontada a primeira semana, no início de Março, em que tivemos de nos readaptar, manteve-se através de teleconsulta. Na primeira semana de Maio, começámos a retomar as cirurgias e alguns dos doentes recomeçaram a vir presencialmente à consulta externa. Claro que isto provocou um atraso que é preciso recuperar.

De quanto é o atraso?
Se não tivesse ocorrido a pandemia, e tendo em conta os números do ano anterior, cerca de noventa doentes teriam sido operados. E não foram. Mas, se as medidas de desconfinamento que o país está a tomar não levarem a um segundo ou terceiro surtos, conseguiremos recuperar. Em 2019, fizemos 580 cirurgias no serviço. Este ano, ainda é cedo para sabermos quão aquém ficaremos desse número.

Qual é o tempo de espera para uma cirurgia de obesidade no HSJ?
Com a recuperação [dos tempos de espera] que fizemos em 2019, quando virámos o ano, não havia nenhum doente à espera de cirurgia há mais de um ano. Com esta paragem, temos meia dúzia de doentes nessa circunstância. Isto olhando para a lista, nua e crua. Em termos de média de espera, antes da pandemia, era de cerca de seis meses. Com este atraso, terá aumentado para os nove, dez meses. Mas o modelo de gestão adoptado há um ano permite que consigamos recuperar, desde que tenhamos as condições normais de programação. E, para já, tudo nos leva a crer que, a partir de Junho, tenhamos já retomado a nossa actividade normal a 100%.

Um ano depois da criação do Centro de Responsabilidade Integrada de Obesidade, que balanço faz do novo modelo de gestão?
Desde Janeiro de 2019 que temos 45 profissionais (cirurgiões, nutricionistas, psicólogos…), cada um nas suas áreas, concentrados à volta do doente obeso. Antes, se chegasse ao pé dos endocrinologistas e nutricionistas e lhes dissesse que tínhamos de recuperar a lista de espera para a consulta ou para a cirurgia, os directores dos respectivos serviços diziam que essa não era uma área prioritária. Agora, o conselho de gestão do centro tem autonomia para chamar os profissionais nas horas em que estes estão adstritos ao projecto.

E em termos de listas de espera?
Quando começámos, em Janeiro de 2019, o doente mais antigo à espera de consulta era de 2013. E, neste momento, não temos nenhum doente em espera antes de 2018. Se não fosse a pandemia, já estaríamos com 2018 “arrumado”. Até Dezembro de 2019, quase “limpámos” cinco anos de espera para uma consulta. Nas cirurgias, quando adoptámos este novo modelo, o doente mais antigo estava à espera há 15 meses. Conseguimos evoluir favoravelmente aí também. E provámos que é possível tratar melhor o doente e mais rápido. E por isso entendemos avançar para este modelo. Era uma área de forte procura e a oferta não estava autonomizada. Não nos parecia lógico que no HSJ um doente ficasse cinco anos à espera de uma consulta de obesidade. E, portanto, concluímos que o modelo anterior não resolvia o problema.

Sugerir correcção