O PS, doce conventual de César e Santos Silva

Costa encolheu o PS, desvitalizou-o para as presidenciais. O PS de César e Santos Silva é um doce conventual para ser degustado em soirées confinadas entre Rio, Costa e os outros, com harmoniosos convívios servidos com canapés de Cascais, entre gente afetuosa, sem laivos de qualquer agressividade, salvo se a destinatária for Ana Gomes. Tudo uma doçura.

A financeirização das economias à escala global retirou aos Estados importantes instrumentos de intervenção, passando a governação a fazer-se em estreitos parâmetros, reduzindo o leque de políticas alternativas. São precisos políticos e políticas prontas a vestir e em regime de take away. Tudo já feito e certificado por uma caterva de burocratas cuja função é certificar que ninguém tem mais um centímetro, nem meia dúzia de quilos a mais, nem alma. Os serviços públicos fortes são gorduras a mais.

Os países devem entrar todos, independentemente do estado de desenvolvimento das suas forças produtivas, no mesmo torniquete. Os mais fortes ficam mais ainda, e os menos, menos. Uns, poucos, recebem por contrair dívidas, outros ficam sem poder investir deixando serviços públicos essenciais à míngua.

A pandemia resultante do coronavírus mostrou o quão importante é um SNS forte para proteger a comunidade, em vez de um serviço de saúde baseado no lucro, onde a cura depende da conta bancária. Veja-se o que está acontecendo no Brasil e nos EUA… Aliás, só o SNS salvou Portugal, pois os “eficientes” privados retiraram-se para se proteger do contágio.

A mesma UE que impôs o programa de empobrecimento vem agora com todo o desplante afirmar que Portugal descurou a Saúde… pois, com a U.E a exigir mais cortes.

Nesta crise brutal que já provocou desemprego, miséria e até fome, as vozes que se erguem e são ouvidas são sobretudo as dos empresários de peso porque as dezenas e dezenas de milhares sucumbem sob o peso da crise pandémica.

O que se vai percebendo do posicionamento da CIP, que se multiplica em encontros confinados a Belém e São Bento, é que o Estado passaria a ser um entreposto para a passagem do dinheiro vindo de Bruxelas a ser pago pelos cidadãos em impostos que consideram inevitáveis, em contraste com a inevitabilidade da redução dos impostos sobre os lucros… e até a distribuição de dividendos e de prémios aos espantosos e maravilhosos gestores do Novo Banco.

A tal subvenção decidida a dois, um(a) grande e outro pequeno, fazendo a Europa encafuar entre Berlim e Paris, como se o resto fosse paisagem. Merkel a fazer de conta que a França ainda tem la grandeur que já não tem, mas está falida de recursos de Saúde como se viu, graças à invasão dos privados na Saúde à custa do Estado.

Neste mar de difícil navegação António Costa não fez como Ulisses, não pôs cera nos ouvidos, não amarrou César nem Siza e parece reacertar o rumo do PS em direção à velha política, àquela que dizem não ter alternativas a não ser respeitar as regras dos sacrossantos mercados financeiros, como no caso do Novo Banco, a fazer de conta que o Estado será reembolsado pelos amigos do “Rei dos Frangos"…

Sem coragem, entre Cila e Caríbdis, Costa decretou o confinamento do PS ao rei dos afetos, o pantomineiro mor do reino, o inefável Presidente, primeiro-ministro, ministro da Saúde e diretor geral do Reino e tendeiro do Minho ao Algarve, passando por “tio” em Cascais… e chico-esperto a anunciar como foge aos polícias para dar um mergulho na abertura da época balnear.

Costa encolheu o PS, desvitalizou-o para as presidenciais. O PS de César e Santos Silva é um doce conventual para ser degustado em soirées confinadas entre Rio, Costa e os outros, com harmoniosos convívios servidos com canapés de Cascais, entre gente afetuosa, sem laivos de qualquer agressividade, salvo se a destinatária for Ana Gomes. Tudo uma doçura. O canto das sereias foi mais forte que a alma dos seus dirigentes.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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