“Uma crise não deve nunca ser desperdiçada”

Não nos deixemos impressionar pela tese apocalíptica de que o mundo como o conhecíamos acabou. O que interessa é que o novo que aí vem seremos nós a construí-lo – ou a deixarmos que o construam contra nós.

Quando, em 2005, o furacão Katrina devastou Nova Orleães, afetando sobretudo os afroamericanos pobres, um deputado da direita exclamou: “Limpámos finalmente a habitação social em Nova Orleães. Nós não o conseguíramos fazer, mas Deus fê-lo!” Pela mesma altura, o nosso velho conhecido Milton Friedman achou que a “tragédia” era uma boa “oportunidade para reformar de forma radical o sistema educativo”, através de um sistema de vouchers que as famílias deveriam gastar em escolas privatizadas. Recorda-o Naomi Klein na introdução àquilo por que já estamos a passar pela enésima vez nos últimos 30 anos: o capitalismo do desastre. “Apenas uma grande rutura – umas cheias, uma guerra, um ataque terrorista [ou uma pandemia] – pode gerar o tipo de grandes telas vazias pelas quais anseiam” os partidários do que ela chamou a “Doutrina do Choque”. “É nestes momentos maleáveis, quando nos encontramos psicologicamente à deriva e fisicamente desenraizados, que estes artistas do real deitam mãos à obra e começam o seu trabalho de refazer o mundo” (N. Klein, A Doutrina do Choque, 2007).

Os leitores são a força e a vida do jornal

O contributo do PÚBLICO para a vida democrática e cívica do país reside na força da relação que estabelece com os seus leitores.Para continuar a ler este artigo assine o PÚBLICO.Ligue - nos através do 808 200 095 ou envie-nos um email para assinaturas.online@publico.pt.
Sugerir correcção