Ambiente em Braga por um canudo

Encontro numa das maiores cidades do país, um cenário ambiental desolador, traduzindo uma gestão pouco criteriosa da questão ambiental, oposta às tendências internacionais de um desejável crescimento sustentável.

Se é verdade que a situação de pandemia em que vivemos provocou uma redução generalizada das emissões de gases com efeito de estufa (GEE) também em Braga, outras situações surgiram denunciando o oportunismo associado à redução da vigilância, imposta pelo confinamento, de uma das cidades mais atingidas pela covid-19.

O primeiro sinal de desprezo pelo Ambiente é ditado pela violação do estabelecido no manifesto “Autarquias sem Glifosato”, que conduziu à retirada do município do mapa das autarquias subscritoras. Denúncias recebidas pelo núcleo de Braga da Quercus foram comunicadas ao município que, em reunião com o Sr. Vereador do Ambiente, se escusou dizendo que a AGERE é a entidade que aplica o produto. O manifesto é claro ao mencionar que as entidades contratadas para a eliminação de plantas infestantes também estão abrangidas pelo protocolo. Resta assim, alertar a população de Braga para o facto de que o referido herbicida é cancerígeno e continua a ser aplicado sistematicamente o que é potencialmente perigoso para os animais domésticos que ingerem normalmente ervas dos passeios e beiradas.

Como ativista ambiental, não posso deixar de referir a minha preocupação com as recorrentes descargas ilegais sobre o Rio Este. Embora se desconheçam as suas características químicas e biológicas e, por isso, a sua real perigosidade, estas são detetadas pela alteração profunda de cor ou pelo efeito da mortandade provocada sobre os peixes deste rio. De novo e na mesma reunião, foi mencionado o papel da AGERE por ser quem administra as redes de esgotos, informando-nos de que seria difícil identificar a origem das descargas. O investimento na rede de monitorização das águas superficiais realizado em 2017 parece não ser suficiente para combater este problema e não são conhecidas quaisquer medidas ou propostas de intervenção para melhorar a situação.

Ainda durante a pandemia, surgem também notícias do abate de árvores no centro de Braga. Há um ano é anunciado o abate de 130 árvores, mas os munícipes são informados da realização futura de um estudo. Um ano depois, o estudo apresentado sugere o abate de 39 árvores em 250 analisadas. Mas o município anuncia, no entanto, o abate das mesmas 130 árvores, sendo que as razões apresentadas assentam em pressupostos pouco transparentes como a alergenicidade (que não é significativa para as espécies do estudo), a segurança, ou razões fitossanitárias. A solução de substituição dos 130 exemplares por 400 novos exemplares serve não mais do que o propósito de iludir a população! É que o valor de uma árvore não se mede em quantidade de massa mas sim num conjunto alargado de valores que começam na produção, sim, mas incluem o valor estético (que pode até contribuir para a valorização no mercado imobiliário), o ensombramento e a redução de temperatura (tão significativo em Braga com períodos estivais rigorosos), a capacidade de sequestrar carbono, e até o valor afetivo. Trata-se de um património, o vegetal, que deveria ser tratado numa cidade como o restante património cultural. Património com várias décadas que nunca será substituído por espécimes jovens mesmo que em maior quantidade e que impedirá uma geração inteira de ver a sua cidade com árvores adultas. Desconhece-se o plano de abate e o respetivo plano de substituição, designadamente as localizações e as espécies a abater e a plantar de novo, de forma a se saber se o plano não colide com espécimes vegetais ou conjuntos arbóreos classificados ou em vias de classificação.

Ao contrário de outras cidades, Braga não possui um Regulamento Municipal do Arvoredo o que torna todas estas operações alvo de justificada suspeição adensada pelos elevadíssimos custos de remoção de árvores de grande porte e dos custos de aquisição e plantação dos novos exemplares.

Torna-se ainda mais grave a redução do número de exemplares arbóreos de grande porte quando se verifica que a autarquia tem vindo a reduzir as áreas verdes disponíveis por autorizar com regularidade a edificação de áreas de comércio e serviços em zonas de PDM consignadas a espaços verdes. Uma cidade sem parques!

Saliento ainda a degradação ambiental gerada pelas questões da mobilidade numa cidade que tem ainda uma enorme dependência do automóvel pela falta de alternativas coletivas; o retrocesso que veio trazer à reciclagem os contentores de lixo no novo sistema “inteligente” que induzem as pessoas a usá-los para todas as tipologias de resíduos, deixando de se deslocarem aos ecopontos.

Encontro numa das maiores cidades do país, um cenário ambiental desolador, traduzindo uma gestão pouco criteriosa da questão ambiental, oposta às tendências internacionais de um desejável crescimento sustentável. A população da cidade de Braga merece para o futuro um maior planeamento, transparência e participação pública nos processos de decisão que, até hoje, deixam muito a desejar.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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