Comerciantes: “perdão” de rendas custa zero ao Estado e salva milhares de empregos

Associação de Marcas de Retalho e Restauração pede ajuda ao Presidente da República, que recebe os seus representantes nesta quarta-feira. Quebra de vendas em lojas já abertas é de 60% a 80%.

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Sá as lojas dos centros comerciais ainda não podem abrir em pleno paulo pimenta

A nova Associação de Marcas de Retalho e Restauração, criada durante a pandemia de covid-19, assegura que boa parte das lojas de retalho que abriram portas na primeira fase de desconfinamento “regista quebras de vendas de 60% a 80%”, o que não lhes permite manter uma estrutura de custos idênticos ao período antes da crise, ao nível das rendas e do número de trabalhadores.

Miguel Pina Martins, um dos rostos da nova estrutura associativa, disse ao PÚBLICO que mesmo nos negócios com agendamentos assegurados para um mês ou mais, como cabeleireiros e similares, as receitas geradas ficam muito abaixo das anteriores, porque as novas regras de distanciamento dentro dos espaços fechados obrigam a reduzir o número de funcionários ao serviço e a limitar o número de clientes atendidos.“Há muitas lojas abertas que estão a ter prejuízo e vão continuar a ter prejuízo nos próximos meses”, assegura.

Por esse motivo, a associação que diz agregar mais de 20 mil postos de trabalho pede “um plano de salvação para o retalho e a restauração”, que terá de passar por um “perdão” dos meses de renda em que os estabelecimentos estiveram encerrados, prolongando, como forma de compensação, os contratos de arrendamento, como está a acontecer nas moratórias para pagamentos de empréstimos bancários.

A proposta que o Governo pretende levar ao Parlamento, para permitir o pagamento das rendas relativas aos meses de encerramento durante um período alargado, até Junho de 2021, “não é comportável para milhares de estabelecimentos”. Porque na prática, explica o presidente da associação, o deferimento do valor representa um acréscimo nas rendas futuras da ordem dos 25%, quando as vendas vão sofrer uma queda muito significativa.

Miguel Pina Martins diz que a solução que propõe “é uma partilha de sacrifícios entre arrendatários e proprietários, que custa zero ao Orçamento do Estado e salvará milhares de empregos”. E acrescenta que os trabalhadores que ficarem numa situação de desemprego “representarão um custo elevado a suportar pelos contribuintes”.

Depois de uma reunião com o secretário de Estado do Comércio e da Defesa do Consumidor, a associação é recebida nesta quarta-feira pelo Presidente da República, a quem pede ajuda para aquele “plano de salvação” para o sector.

Descontos nos centros comerciais 

Alguns proprietários de centros comerciais, que podem ter todas as suas lojas abertas a partir de 1 de Junho, já anunciaram o perdão total ou parcial de rendas, ou mesmo a redução dos valores futuros, mas Miguel Pina Martins lembra que “a decisão não abrange todos os estabelecimentos, e há muitas lojas e restaurantes que estão fora desses espaços comerciais e que precisam desesperadamente de ajuda”.

Nos centros comerciais disponíveis para “partilhar” os custos da crise, destaca-se a Mundicenter, dona do Amoreiras e da Braga Parque, entre outros, e o Almada Fórum, do espanhol Merlin Properties, que concedem o perdão total dos dois meses de encerramento da actividade. Estes dois proprietários vão igualmente à frente nos apoios futuros, com a Mundicenter, do grupo Alves Rineiro, a “oferecer” também 50% do valor da renda de Junho, e a Merlin Properties a assegurar descontos, de 40% a 60%, até ao final do ano.

A Sonae Sierra, dona do Colombo e do Norteshopping, entre outros, perdoa 50% das rendas e despesas comuns relativas a Abril e Maio. E o grupo francês Klepierre, proprietário do Parque Nascente e do Aqua Parque Portimão, entre outros, faz um desconto de 25% no valor referente aos dois meses de encerramento.

A associação, que agrega mais de uma centena de marcas, como Ana Sousa, Chicco, Foreva, ou a Padaria Portuguesa, a Starbucks, Ginos ou Fortuny Food, com mais de duas mil lojas de retalho e restauração, antecipa uma recuperação muito lenta das vendas.

Também o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal admite a necessidade de medidas específicas para o sector, que verá a sua actividade afectada, dado que “uma faixa muito grande da população sofreu cortes brutais de rendimentos, por situações de layoff, de desemprego, de trabalhadores independentes que deixaram de ter actividade, e muitas pessoas que não conseguiram aceder a apoios públicos”. Paralelamente, Vieira Lopes lembra que “as poupanças de muitos portugueses são muito reduzidas ou inexistentes, impedindo-os de adquirir determinados bens, a que acresce o receio de uma segunda vaga do coronavírus”.  As propostas da CCP já foram apresentadas ao Governo.

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