Comércio alerta que corte dos rendimentos trava recuperação do sector

Alguns pequenos restaurantes não abriram portas esta segunda-feira. Confederação do Comércio sublinhou o papel das esplanadas nesta nova fase do desconfinamento social.

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Primeiro-ministro, António Costa, tomou o pequno almoço na esplanada de uma confeitaria lisboeta. LUSA/TIAGO PETINGA

Com a ajuda do bom tempo, os centros das principais cidades do país registaram “uma acréscimo significativo de pessoas, as esplanadas registaram forte ocupação, e os restaurantes receberam alguns clientes”. Em termos muito genéricos, este é o balanço do primeiro dia de reabertura de vários estabelecimentos comerciais com porta para a rua, feito pelo presidente da Confederação do Comércio e Serviços (CCP), João Vieira Lopes.

Com base na informação que recolheu junto de várias associações sectoriais, o presidente da CCP adiantou ao PÚBLICO que “alguns restaurantes de pequena dimensão não abriram”, uma avaliação que, salvaguarda, carece de mais tempo para se perceber a sua dimensão.

No âmbito do Plano de Desconfinamento, esta segunda-feira também puderam abrir as lojas de rua com área até 400 metros quadrados e notou-se, em algumas zonas, uma procura por alguns estabelecimentos que excedeu o número de clientes permitidos, originando a formação de filas, como aconteceu, por exemplo, na loja da Zara, na baixa do Porto.

Os restaurantes e cafés de maior dimensão, e aqueles que têm uma grande fidelização de clientes, registaram “alguma procura, mas as limitações de ocupação travaram a sua actividade”, adianta João Vieira Lopes. “Praticamente cheias só as esplanadas, mas muitos restaurantes, cafés, e cafetarias não dispõem de espaços para esse efeito, o que trava a sua actividade”, adiantou.

Ainda nos restaurantes, mas nos que se localizem em cidades ou localidades do interior, a afluência de clientes foi menor que nos centros das grandes cidades, o que se explica pelo facto de boa parte dos clientes se deslocar para aí em trabalho, o que ainda não está a acontecer em grande escala. Essa foi uma situação reportada, por exemplo, por alguns restaurantes de Viseu, muito dependentes dos almoços de trabalhadores em trânsito, refere Vieira Lopes.

Apesar da maior circulação de pessoas e alguns clientes nos restaurantes, mesmo em dia em que praticamente não há peixe fresco, e há restaurantes particularmente procurados por isso, como é o caso de Matosinhos, e outras regiões do país, onde ainda assim se registou alguma afluência de clientes, o presidente da CCP diz que é preciso moderar as expectativas em relação à recuperação de actividade de muitos estabelecimentos.

E lembra que “uma faixa muito grande da população sofreu cortes brutais de rendimentos, por situações de layoff, de desemprego, de trabalhadores independentes que deixaram de ter actividade, e muitas pessoas que não conseguiram aceder a apoios públicos”.

Paralelamente, Veira Lopes lembra que “as poupanças de muitos portugueses são muito reduzidas ou inexistentes, impedindo-os de adquirir determinados bens, a que acresce o receio de uma segunda vaga do coronavírus”. 

Por essa razão, a confederação pede apoios ambiciosos ao Governo, nomeadamente ao nível das rendas. 

O Governo decidiu, no último Conselho de Ministros, alargar o prazo de pagamento das rendas relativas ao período de encerramento dos estabelecimentos, “retomando-se os pagamentos com o limite do período de regularização da dívida de Junho de 2021”.

“Muitas empresas não terão capacidade para pagar as rendas relativas aos meses em que estiveram fechados, mesmo que o prazo de pagamento seja alargado a 12 meses”, defende o líder associativo, adiantando que durante esta semana a CCP reforçará, junto do Governo, para que sejam acolhidas as suas propostas.

Entre as medidas avançadas está o perdão de rendas, ou cortes temporários no valor das rendas, para as empresas que estejam em situação de crise devido à pandemia de covid-19. Em contrapartida, os proprietários terão direito a um benefício fiscal através de um corte na taxa liberatória, acrescenta o mesmo dirigente.

À semelhança do que fez o primeiro-ministro, António Costa, e vários dos seus ministros, que tomaram o pequeno-almoço e almoçaram em estabelecimentos que só esta segunda-feira puderam reabrir portas, João Vieira Lopes, começará esta terça-feira a contribuir mais activamente para a dinamização da actividade económica. De regresso a Lisboa, disse ao PÚBLICO que já tem agendada a ida ao barbeiro, e a revisão do carro, deixando ainda a promessa de ir tomar café na pastelaria habitual e almoçar num dos restaurantes que mais gosta de frequentar.

Esta segunda-feira foi alargado o número de estabelecimentos autorizados a reabrir, onde se incluem os restaurantes, cafés e lojas até 400 metros quadrados com porta para a rua (excluindo os que se localizam em centros comerciais, que só poderão reabrir a 1 de Junho).

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