Mark Zuckerberg: “Vivemos uma crise de segurança em torno da desinformação”

Mark Zuckerberg diz que o Facebook está fazer aumentar os esforços de combate à desinformação, mas o comissário do Mercado Interno acredita que nunca será possível fazer o suficiente.

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Mark Zuckerberg voltou a pedir regulação Reuters/Yves Herman

Mark Zuckerberg admitiu, esta segunda-feira, que a desinformação sobre a covid-19 à solta nas plataformas do Facebook — sobre curas falsas ou perigosas e teorias da conspiração — contribui para a “crise de segurança” que se vive com a actual pandemia. “Isto é uma emergência em muitas frentes. É uma emergência de saúde, é uma emergência económica, e também é uma emergência de segurança em torno da desinformação”, reconheceu o presidente do Facebook, numa videoconferência em directo com Bruxelas. 

Durante a tarde desta segunda-feira, o presidente do Facebook e o comissário do Mercado Interno, Thierry Breton, juntaram-se para discutir os efeitos e consequências da pandemia nas plataformas online num debate moderado pelo Centro de Regulação da Europa (CERRE), um think thank que promove a criação de regulação robusta para as indústrias digitais. O tema era a necessidade de um “novo acordo digital” entre governos e tecnológicas no mundo pós-pandemia. 

Enquanto o presidente do Facebook frisou que a plataforma está a fazer o máximo para combater a desinformação, o comissário do Mercado Interno foi mais céptico. 

“Nunca faremos o suficiente para prevenir a desinformação. É a doença do século”, resumiu Thierry Breton. “Aprecio o esforço das plataformas. Às vezes funciona, às vezes não funciona, mas ainda assim é preciso mostrar que estamos a progredir.”

É um dos motivos por detrás de reuniões recentes entre oficiais de Bruxelas e representantes de plataformas online como o Facebook e o YouTube. O objectivo é obter informação sobre a origem e alvo das grandes campanhas de desinformação.

Embora o foco do Facebook seja impedir conteúdo classificado como “problemático” de se espalhar, Zuckerberg está consciente que é preciso actuar junto das pessoas a quem a desinformação chega. “Também temos de desenvolver mitigações para pessoas que já tiveram acesso a desinformação, e descobrir formas de lhes levar informação de qualidade”, disse o presidente do Facebook, notando que as autoridades europeias têm facilitado a colaboração ao nível da partilha de dados sobre desinformação e riscos detectados em diferentes países.

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Mark Zuckerberg e Thierry Breton juntaram-se num debate online sobre o impacto da covid-19 no mundo digital CERRE

Facebook ajuda governos com desconfinamento 

Durante o debate também houve espaço para o impacto positivo das grandes plataformas online no combate à covid-19, com Zuckerberg a destacar a recolha e partilha de informação sobre sintomas da covid-19.

“Actualmente, não é possível testar toda a gente, mas podemos perguntar às pessoas sobre os sintomas. Isto pode ser muito útil para ajudar governos a decidir quando é que podem reabrir a economia”, notou Zucberberg.

No começo de Abril, numa altura em que vários países começaram a desenvolver aplicações e sistemas de controlo de contágio da covid-19, o Facebook decidiu expandir o acesso ao Data for Good, um programa que recolhe informação agregada e anónima dos utilizadores em todo o mundo para investigações académicas. As novas ferramentas para ajudar a travar a covid-19 incluem mapas com os movimentos e conexões dos utilizadores. Um dos objectivos é perceber se as pessoas estão mesmo a ficar em casa.

O responsável do Facebook clarificou no entanto que o Facebook “não tem acesso aos sintomas” e o que a plataforma faz é ajudar académicos a ter a informação de que precisam.

No novo normal, Internet será mais importante

Bruxelas vê a colaboração com as grandes plataformas tecnológicas como fundamental, numa altura em que devem ganhar mais relevância. “A pandemia vai ter um grande impacto na forma de vivermos e trabalharmos no futuro”, partilhou, por sua vez, Thierry Breton. “Metade da população do planeta ainda está confinada. A trabalhar, a socializar, a aprender em casa. Muitos dos cidadãos europeus, e no resto do mundo, não estavam habituados ao teletrabalho, e agora faz parte do dia-a-dia. Isto vai-se tornar mais comum.”

Além do impacto das plataformas na forma como as pessoas lidam com a covid-19, um dos grandes temas em debate é a portabilidade de dados entre plataformas. Ou seja, a possibilidade de alguém trocar o Facebook por outro site e poder levar os seus dados (mensagens, fotografias, publicações) para a nova rede social.

Para Zuckerberg a resposta não é fácil. “Não acho que ninguém seja contra a ideia de levar informação de um serviço para outro. A dificuldade está em perceber onde é que os dados de uma pessoa entram em conflito com os dados de outra pessoa.”

Com isto, o presidente do Facebook voltou a defender a importância de criar regulação para as grandes plataformas online sobre temas como privacidade e liberdade de expressão. Há muito que Zuckerberg defende que os governos devem ter definições mais claras sobre o que constitui conteúdo problemático na Internet, porque essas decisões “não deviam ser feitas por uma empresa privada”.

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