Costa e Marcelo sem máscara

Na guerra com Centeno, Costa ganhou Marcelo. Este, na batalha pelo plebiscito presidencial, ganhou Costa e o PS ficou órfão. O encontro de ambos poderá vir a figurar nos manuais de amor ao próximo.

Hoje os banqueiros sabem que podem arruinar bancos, que os Estados, por via dos impostos dos cidadãos, virão em seu socorro. Claro que há uma parte do “socorro” que se entende e que tem a ver com as poupanças dos clientes. O resto é arenga para manter a santidade dos mercados a funcionar. Vale a pena ter em atenção que em Portugal os banqueiros “arruinados” continuam a fazer a mesma vida, enquanto milhões de portugueses viveram dias dificílimos. Com a troika a pobreza ficou muito próximo de um quarto da população. Vamos ver como fica no fim da pandemia.

Tenha-se em conta o comprometimento do antigo triunvirato Cavaco/Passos/Carlos Costa no que ao BES se refere. Deram todas as garantias de que era um banco seguro. Depois, quando já não era, veio Maria Luís Albuquerque jurar que partiam o banco em dois e o Novo Banco seria bom e o outro o mau. Quem já se esqueceu? O banco bom já nos levou 7876 milhões de euros… E quanto mais irá levar?

Entretanto, o país assistiu à bravata em torno da alegada falta de informação de Mário Centeno a António Costa da decisão tomada no Conselho de Ministros quanto ao momento da transferência dos 850 milhões de euros para o banco bom. Sabia-se, melhor, intuía-se que o enlevo de Costa por Centeno passara para Siza.

Quando Costa se atirou com toda a repugnância ao sr. ministro das Finanças dos Países Baixos, havia no adjetivo qualificativo uma intensidade que parecia ir para além do destinatário. O vigor ecoou nas paredes das salas de reuniões do Eurogrupo. Era repugnante o que o ministro dissera, e o silêncio do Eurogrupo?

O próprio pedido de desculpas de Costa a Catarina dava ares de serem setas atiradas ao novo São Sebastião das Finanças.

A surpresa chegou mais tarde com o encontro na Autoeuropa alemã de António Costa/Marcelo. Ambos sem máscara a encavalitaram-se ao colo para declararem que no regaço levavam uma eleição presidencial, eram votos no regaço, esclareceram a quem os quis ouvir. Não eram rosas.

Na guerra com Centeno, Costa ganhou Marcelo. Este, na batalha pelo plebiscito presidencial, ganhou Costa e o PS ficou órfão, sendo o maior partido neste momento. O encontro de ambos poderá vir a figurar nos manuais de amor ao próximo.

Marcelo tem raízes capazes de chegarem a qualquer lado, a distância entre Belém e o Rato é significativa, mas pelos vistos alcançável. E sem ser a nado.

Portugal confinou-se ainda mais. Em Belém a música não mudará face à entronização de São Marcelo. São Bento que se cuide se se fiar na virgem. A sedução está concluída. O PS fica a ver o andor de São Rebelo. À esquerda, pelo que se vislumbra, haverá uma competição pela liderança da segunda Liga, num país em que a direita é minoritária.

Costa e Marcelo envolveram-se a fundo nos destinos de cada um, sendo que Marcelo, depois de eleito, fica de mãos livres e Costa não.

Enterraram Centeno, mesmo que o funeral tenha sido adiado. E, para que conste, o Estado continuará a pagar o Novo Banco, não se esqueçam.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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